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Quem encomendou a morte de Gel Lopes?

25/01/2015 - 18h21

Gel Lopes ganha destaque nacional quase um ano após sua morte

Coluna Pensando com Coragem

Olá, amigo! Estamos aqui de volta para mais uma semana, este aprendiz de escriba continua sua dura missão de sempre tentar defender aquilo que acha certo, embora aquilo que eu acho certo é o que outros fazem errado achando que estão certos. Nossa missão é essa: apontar o erro, se quem errou vai se corrigir, ou pagar pelo que fez, aí já é outra questão que não nos diz respeito, nossa responsabilidade termina quando denunciamos algo que achamos que está errado.

Essa semana, o assassinato do jornalista, radialista e ex-vereador Jeolino Lopes Xavier, o “Gel Lopes”, que morreu quando tinha 44 anos, ganhou destaque nacional durante a apresentação do relatório anual da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), que mostrou os números da violência sofrida por jornalistas durante o ano de 2014.

Segundo o relatório, foram 129 casos de agressão a jornalistas e três assassinatos ocorridos em 2014, dos três assassinatos, dois foram no Estado do Rio de Janeiro, sendo o primeiro o do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, que morreu ao ser atingido por um artefato explosivo durante as manifestações de rua, isso em fevereiro de 2014.

Também em fevereiro de 2014, Pedro Palma, dono e repórter do jornal “Panorama Regional”, em Miguel Pereira, interior do Estado do Rio, foi morto com três tiros, na porta de casa. Ele denunciava casos de corrupção envolvendo políticos da região.

Fevereiro também foi o mês que executaram Jeolino Lopes Xavier, o “Gel Lopes”. É bom que os leitores entendam que o nome Jeolino é escrito com J na certidão de nascimento, já Gel é escrito com G, e nome próprio não segue a regra da linguagem ortográfica, embora Gel era uma abreviatura de Jeolino, ele não precisava ser escrito com J, é escrito com G, pois assim que Gel gostava.

A execução de Gel Lopes ocorreu na quinta-feira, 27 de fevereiro, de 2014, na rua da Saudade, no Bela Vista, em Teixeira de Freitas.

Aquele fatídico dia na esquina da rua da Saudade, com rua da Pituba, região central de Teixeira de Freitas, entrou pra história como o dia da impunidade, a rua da Saudade vai sempre lembrar a dor trazida com a ausência de Gel Lopes a seus amigos e colegas de trabalho; a rua da Saudade já tem este nome por ser a rua do primeiro cemitério de Teixeira de Freitas.

Quis o destino, ou quem sabe os assassinos, que Gel Lopes fosse executado numa rua com o nome Saudade, talvez, para ficar claro que a única lembrança que teremos do fato será a saudade que Gel deixou para quem o conhecia, seu jeito brincalhão, desbocado, até debochado em algumas situações, fará sempre com que a gente lembre dele.

Mas, as lembranças não nos trarão ele de volta, nem fará com seus assassinos sejam punidos. Gel Lopes será lembrando também pela lembrança da impunidade: um jornalista foi executado a tiros, não um tiro qualquer, foram seis tiros de pistola 9 milímetros, uma arma de poder bélico poderosíssimo, o tiro de 9 milímetros pode romper carro forte.

Tanto o crime de Pedro Palma, quanto o de Gel Lopes, segundo o relatório da Fenaj, têm características de crime por encomenda, diferente da morte de Santiago Andrade, que foi ocasionada por um acidente, sendo que seus responsáveis já estão presos e podem ir a julgamento a qualquer momento em júri popular.

Alguém encomendou a morte de Gel Lopes, alguém também encomendou a morte de Pedro Palma, os dois tinham algo em comum: denunciavam casos de corrupção envolvendo políticos de suas respectivas regiões.

Quem encomendou a morte de Gel Lopes?

Relatos dão conta de que dias antes de sua morte, Gel Lopes andou viajando pela Região Metropolitana de Salvador e esteve em Camaçari, onde teria montado um dossiê, que supostamente seria de empresas que prestam serviços para a administração municipal de Teixeira de Freitas.

As autoridades constituídas até hoje não se pronunciaram sobre isso.

Fato é que o crime está prestes a completar um ano e não houve qualquer punição para quem cometeu.

Relatos ainda dão conta de que no início do mês de dezembro diversos mandados de prisão foram solicitados junto ao Tribunal de Justiça da Bahia, destes, alguns foram negados, outros, decretados, no entanto, até hoje nada foi feito.

Até o relatório da Fenaj causa espanto, já que a entidade que devia cobrar a punição de crimes contra jornalistas, não fez nada em relação ao caso Gel Lopes, pelo menos ninguém tomou conhecimento de alguma posição tomada por ela.

Chegar agora e apresentar um relatório mostrando a realidade para a sociedade é até louvável, mas, eu gostaria de saber o que a entidade fez pelo esclarecimento do crime?

Que eu tenha conhecimento, nada fora feito.

O crime de Gel Lopes é tão estranho que toda imprensa do extremo sul se calou. Temos aqui na região representantes do Sindjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia); pergunta o que eles fizeram?

Quero, inclusive, deixar o espaço aberto ao jornalista Edelvânio Pinheiro, que até onde eu sei é representante do sindicato na região, para que possa divulgar as ações do sindicato para cobrar punição do crime.

O que sei é que quem deveria cobrar o crime se acovardou, muita gente da imprensa regional, que não tinha contratos com a PMTF, ganhou contratos e, em seguida, se calou, únicos veículos que ainda cobram esclarecimento do crime é a Rede Sul Bahia de Comunicação e o “Repórter Coragem”.

Inclusive, a cobrança do crime foi o motivo para o rompimento do contrato entre a Prefeitura de Teixeira de Freitas e a Rede Sul Bahia de Comunicação, que é liderada pelo ex-deputado Uldurico Pinto.

Porque a entidade máxima dos jornalistas, a Fenaj, colocou o caso Gel Lopes em seu relatório e não fez nenhuma cobrança para que o crime seja esclarecido?

Será que o papel da entidade é apenas fazer relatório?

Será que a Fenaj não possui respaldo para vir a Teixeira de Freitas cobrar apuração do crime?

Por que o silêncio da imprensa regional?

Será que quem encomendou a morte de Gel Lopes possui tanto poder, que ninguém tem coragem de enfrentar?

Pelo comportamento da Fenaj, Gel Lopes virou apenas estatística. E eu fico aqui cobrando, daqui a pouco, ano que vem, a Fenaj me coloca também na estatística dela, aliás, eu não entraria, pois não possuo registro como jornalista, apenas de radialista. Pelo jeito, Gel virou estatística, eu nem isso viraria, porque no relatório da entidade não entra radialista.

O que esperar após essa lembrança da Fenaj?

Eu não espero nada, já que, ao que parece, a tal entidade, assim como uma criada em Teixeira de Freitas, serve apenas para que os líderes ganhem projeção política e contratos com prefeitura.

Eu continuarei cobrando, pode todos se curvar, eu não me curvarei, não vim para ser igual, vim para fazer a diferença. Não me preocupo com o que pensam de mim, quero apenas fazer meu trabalho. Isso farei até quando deixarem, quando não mais permitirem, servirei de estatística. Essa é a vida: se você não vale nada quando está vivo, imagine quando está morto?!

Ah! o crime de Gel Lopes completa 11 meses no próximo dia 27 e um ano em 27 de fevereiro, espero que pelo menos quando completar um ano façam alguma coisa.

Jotta Mendes é radialista e repórter


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