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Edelvânio Pinheiro “Os basiliscos não poderão jamais devorar a retidão da Justiça”

28/07/2013 - 18h28
EDELVANIO PINHEIRO

A justiça voa nas asas dos grifos, corta os ares, domina os céus e, felizmente, peleja na terra contra os mortíferos basiliscos, que arrastam negligentes e corruptores, que empunham a espada da ignorância contra a verdade serena e incorruptível da retidão.

Nesse céu de anil, mares azuis e terra às vezes intrafegável, as plumas alvas da justiça fazem ressoar inúmeros vereditos na sua balança que deve ter peso íntegro e insubornável e não pode coadunar com as ideias daqueles que dizem servir ao bem, mas que são constantemente encontrados bebendo na fonte do mal. Ainda que apelos – velhas estratégias dos arautos da advocacia – sejam levados em forma de pressão popular, a equidade de vestes tão luzentes não pode jamaisser prisioneira. Os voos plenos de sabedoria, decência e ordem dessa matrona devem sempre ter vozes de supremacia.

Melancólica e revolvendo em suas doutrinas e princípios, a lisura pede coragem, e empenho aos magistrados no sentido de darem a melhor direção à carruagem de flores, cobrando sempre a sensatez daqueles que, por livre arbítrio,preferem colher os espinhos tão afiados da lei. Com olhos de águia a Justiça, ainda que a sociedade seja benevolente com o silêncio dos covardes e com os gritos dos insanos, não pode amolecer o coração diante das almas dilaceradas de quem tem, por esse mundo afora, filhos e amigos atrás das grades das escolhas.

Nessa dança de comportamentos, interesses medíocres, conveniências e inversão de valores, cada um, independente do emprego estável, do trabalho árduo, da religião, raça ou opção sexual, precisa depositar na conta da Justiça o preço das atitudes covardes e impensadas. Afinal, todos os seres humanos navegam no mesmo barco da existência, limpando o convés ou apreciando, na proa, o vento suave do mar. E, se por uma razão ou outra, a lei, através das mãos humanas,ainda cria brechas para beneficiar alguns é porque a sociedade não é imparcial e acredita, com veemência, que seus familiares e amigos não devem pagar pelos erros cometidos. Se assim o for, logo a conivência e seus favoresse tornarão leis nos corredores das casas das autoridades jurisdicionais e ninguém mais será punido.

A sociedade tem sim o direito de gritar por justiça, mas deve admitir seus excessos e atitudes fúteis. A sociedade precisa ter a nobreza e a hombridade de recolher suas emotivas faixas e contribuir para que fique a lição severa das leis no coração de quem, por qualquer razão, tenha se desviado das condutas moralmente estabelecidas pelo convívio social. Em vez da dissimulação, a sociedade deveria rezar para que, mesmo quando o mal vier pedir abrigo,tenhamos a decência para recusá-lo e o caráter firme para bater-lhe a porta. Assim, é preciso resistir ao mal, pois todo ilícito é intragável e injustificável.

Deus, criador de toda essa engrenagem complexa a que chamamos universo, deu-nos um grande exemplo. Julgador imparcial de Adão e Eva, sob nenhum pretexto ou apelação trouxe de volta o casal ao jardim do Éden. E assim, mesmo sendo sinônimo de amor benevolente e misericordioso, Deus puniu a sua criatura com severidade. É necessário termos como exemplo as lições do Deus da justiça para não encobrirmos os erros daqueles que são criados em companhia dos aleivosos e baderneiros.

Em um cenário democrático há uma gritante diferença entre amar os que vimos crescer e concordar com as atitudes ilegais destes. Afinal, vive-se de exemplos. Que a outra face da moeda, então, abra também suas faixas e reze ao Deus justo e ordeiro para que os pais deste país não criem mais ladrões, oportunistas, interesseiros, caluniosos, fofoqueiros, preconceituosos, charlatões e muitos outros tipos de personalidades pérfidas, que são verdadeiras mestres na arte de falar, mas com misteriosas dificuldades para ouvir e entender a posição alheia.

Se o mastro de uma nova paisagem não for militarmente estendido e não houver imparcialidade nas opiniões e manifestações sociais, se criarão muitos outros filhos aliciadores e aliciados e de nada valerá o “não” pedagógico dos pais. E assim, sob qualquer circunstância, logo bandeiras tremularão em praças públicas e o pedido de Deus, através do livro de Deuteronômio, para que não pervertamos a justiça, será jogado ao vento e os basiliscos engolirão terrivelmente a boa-fé e a avidez da retidão.

O homem em sua missão de educador e mestre dos filhos, além da coragem para lutar por seus direitos, deve ensinar-lhesa modéstia e o recato da mansidão e do equilíbrio para que os açoites da lei não os punam.

Edelvânio Pinheiro


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