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Mulher e filha de líderes de facções aproximam criminosos

23/04/2018 - 09h18

Em fase de disputa por rotas do tráfico de drogas, Comando Vermelho (CV) e PCC, as duas maiores organizações criminosas do país, já atuaram em parceria no passado, dividindo custos de logística de carregamentos de cocaína e armas. E foi a amizade de duas Jaquelines que aproximou as duas facções. Jaqueline Costa, mulher de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Jaqueline Kely Arantes, filha de José Cláudio Arantes, conhecido como Tio Arantes, se conheceram na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná, e se tornaram amigas, ajudando a aliança entre os dois líderes do crime — Beira Mar à frente do CV e Tio Arantes, então chefe do PCC no Mato Grosso do Sul.

A amizade entre as duas Jaquelines foi descoberta na Operação Fênix, desencadeada pela Polícia Federal, no Paraná, que resultou na condenação de Beira Mar, em 2008, a 29 anos de prisão pelo juiz Sergio Moro, então titular da 2ª Vara Criminal de Curitiba, por tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro.

Elas tinham quase a mesma idade e dividiam a mesma aflição, de dar apoio aos parentes atrás das grades. E ajudavam, como provou a PF, também nos negócios do lado de fora do presídio. Quando a Operação Fênix foi desencadeada, em 2007, Jacqueline Costa, a mulher de Beira Mar, tinha 32 anos. Jaqueline Kely, 30.

Jacqueline já era mulher de Beira Mar há 10 anos, mas só em 2007 o casamento foi formalizado. Em novembro daquele ano, Beira Mar tinha sido transferido para o presídio federal de Campo Grande, onde, de fraque, trocou alianças com Jacqueline, de vestido de noiva branco. Cerca de 20 dias depois, o casamento foi celebrado sem o noivo. A celebração ocorreu numa casa de festas na Barra da Tijuca, no Rio. Entre as convidadas estava Jaqueline Kely.

Esposa de Fernandinho Beira-Mar cumpre pena em Porto Velho

A ligação entre as duas Jaquelines ficou evidente porque Jaqueline Kely ficou responsável por alugar duas casas, na própria cidade de Catanduvas e em Cascavel, a 60 km do presídio. As duas residências serviram de apoio aos parentes de presos e advogados das duas facções e era paga, de acordo com as investigações, por Beira Mar.

— As duas mulheres fizeram amizade durante a visita aos presos e ficaram muito próximas, ajudando a consolidar uma parceria entre as facções — contou o delegado da PF Wagner Mesquita, responsável pela operação.

Naquela época, o Comando Vermelho era o grupo mais forte na compra de cocaína da Bolívia, e Beira Mar era o cabeça na negociação com os cartéis sul-americanos. Tio Arantes era um nome forte dentro do PCC que comandara a pior e mais sangrenta rebelião na penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul em 2006.

A penitenciária de Catanduvas foi o primeiro presídio federal do Brasil, inaugurada em maio de 2006. Beira Mar foi o preso número 1 do lugar. Com a transferência de novos presos para lá, entre eles Tio Arantes, a escuta autorizada pela Justiça aumentou, e flagrou a atuação das duas Jaquelines.

Segundo as investigações, um carregamento com cocaína entregue pela facção paulista ao CV obrigou que as Jaquelines entrassem no circuito para resolver o problema, e a conversa das duas sobre a droga, de forma cifrada, foi percebida pelos agentes federais.

Jaqueline Kely foi condenada a nove anos e 11 meses e deixou a prisão no início de 2017. Condenada a 20 anos e cinco meses, Jacqueline Costa cumpre pena, desde janeiro, em regime aberto em Porto Velho, onde o marido está preso desde 2017. Os advogados de Beira Mar negaram ao GLOBO que houvesse amizade entre as duas. Jaqueline Kely não foi encontrada.


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