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Jotta Mendes “2 de dezembro de 2009: o dia em que eu nasci de novo”

01/12/2013 - 18h51

2 de dezembro de 2009: o dia em que eu nasci de novo

Pensando com Coragem 3

Queridos leitores, não sei por que, mas, me deu uma vontade imensa de compartilhar com vocês um episódio que me aconteceu há quatro anos.

Um acidente grave, onde quase perdi a vida!

O dia era 2 de dezembro de 2009, lá estava eu na BR-101, com destino a Itabatã, onde mantinha um programa diário na Rádio Três Corações FM 97,5.

Minha saída todos os dias sempre cumpria a mesma rotina, deixava minha ex-esposa no trabalho e lá ia eu a bordo do meu veículo, na época um Fiat Uno 2005, de cor azul. Como fazia aquele trajeto, no mínimo, três vezes por semana, eu tinha na memória cada pedaço da BR-101 até chegar a Itabatã.

Lembro-me que, como sempre, eu tinha costume de dar carona a alguém que ficava próximo ao posto 3 da PRF. Neste dia, havia muitas pessoas no local, cheguei a reduzir o carro para oferecer carona, depois desistir e fui embora sem saber o porquê.

Lembro também que até o Posto Malacarne fui pensando em parar e voltar para oferecer carona a quem tivesse no ponto, depois do posto desisti e fui embora.

Daí em diante, eu não consigo recordar, não me lembro o que fiz, só me lembro a cena dois dias depois saindo do Hospital Municipal de Teixeira de Freitas, quando, ao lado da minha ex-esposa, fui cumprimentado por Luciene, mãe da minha filha Maria Eduarda, e Lindaci, mãe do meu filho Thiago Guilherme.

Essa cena nunca sai da minha cabeça.

Lembro que isso era, me parece, numa sexta-feira à tarde, o acidente teria sido numa quarta-feira. No domingo, lembro que meu irmão Samuel Mendes, que é pastor da Assembleia de Deus Madureira de Itabela, estava com uma caravana na casa da minha mãe, dona Rosália Mendes, e ele me falava sobre eu ter sofrido um acidente, mas, eu não recordava, embora estivesse com o braço enfaixado e usando uma tipóia, que me deixava praticamente imobilizado, podendo movimentar apenas a mão esquerda.

A imobilização era apenas no braço direito, só que botaram uma tipoia e eu não conseguia fazer nada.

Sempre tive como característica fazer tudo sempre com a mão direita, o que para mim acabou deixando as coisas mais complicadas, já que com a mão esquerda eu não conseguia fazer nem minhas necessidades pessoais, devido à dificuldade que eu tinha em usar a mão esquerda.

Lembro que era época da festa de aniversário da Igreja Batista Central, como boa parte da minha família é de lá, acho que quase todos os dias fui levado à festa, que por sinal estava muito boa e o povo foi muito receptivo a minha pessoa.

Às vezes, eu ouvia as pessoas dizerem “se você sobreviveu àquele acidente, é porque Deus tem uma grande obra para você fazer”. Eu não compreendia direito, pois não conseguia recordar o acidente, ainda estava meio que atordoado, como se não soubesse onde eu estava.

Dias depois, meu irmão mais velho, Neto Eletricista, me levou ao local onde estava o carro, pude ver o veículo destruído, mas, não senti nada, apenas tive certeza que eu realmente tinha sofrido um acidente.

Ai já tinha pegado o Boletim de Ocorrência feito pela PRF, as coisas já começavam a se encaixar, embora minha cabeça continuasse confusa, sem entender nada.

Todo mundo que me encontrava falava deste acidente, eu ouvia tudo, não compreendia nada, lembro que tive que ir ao ortopedista, me parece que em 17 de dezembro, quando ele faria um diagnóstico da lesão que eu tinha no braço e se já poderia ficar sem aquela tipoia.

Quando sai do médico, chorei demais, sai de lá tendo a certeza que passaria o Natal com aquela tipoia, algo horrível. Liguei para meu irmão desesperado, tudo que eu não queria era a companhia daquela tipoia no dia de Natal.

Paguei uma consulta em outro ortopedista, tudo para tentar me livrar daquilo, porém, tive que me acostumar, aquela seria minha fiel companheira natalina.Jotta Mendes Natal 2009

Enfim, chegou o dia de Natal e eu acabei me acostumando com a tal tipoia, curti a noite com minha família com ela no braço.

Ai veio a virada do ano, outra tortura, nunca fui chegado a farra, mas, depois de passar a virada do ano na igreja, sempre gostei de ir à praia no dia seguinte, eram duas coisas complicadas: ir para a vigília de virada de ano a pé, com aquela tipoia; algo, no mínimo, inusitado.

Minha ex-esposa estava grávida do meu filho mais novo, o Matheus Mendes, meus familiares todos viajaram, sobrou eu, minha ex-esposa e minha mãe, depois de pensar muito em como passar a noite da virada na igreja, decidimos ir a Igreja Batista Central, porque era perto da casa de minha mãe, tinha como a gente ir e voltar a pé depois da virada.

Praia nem pensar, era hora de fazer algo que eu pudesse curtir por aqui mesmo, mas, superei isso.

Alguns dias se passaram, era hora de tentar erguer a cabeça, precisava retomar a vida, chamei um mecânico e fui com ele ao Central Parque, onde meu carro tinha sido guardado quando foi trazido de Posto da Mata.Acidente carro 2009 Jotta Mendes (2)

Lembro-me como agora, olhei o carro, vi tudo fora do lugar, veio o diagnóstico do mecânico, isso nem tinha mais importância, minha cabeça agora me perguntava, como eu sai vivo de dentro daquele carro todo destruído? Bancos fora do lugar, volante fora do lugar, portas que não abriam mais, frente toda destruída.Acidente carro 2009 Jotta Mendes (1)

Não me restou dúvidas, foi coisa de Deus. O carro naquela situação, eu apenas com o braço quebrado e uma cicatriz na parte inferior do queixo. Ao sair de lá não tive vontade de comer, nem de fazer nada, apenas pensando como teria sido possível eu sair dali.

O carro foi embora, minha vida continuou, voltei a trabalhar, meu filho mais novo nasceu, retomei tudo que fazia antes, mas, ainda hoje não me veio a memória o que me aconteceu, antes e na hora do acidente, dos momentos no hospital, tenho vagas lembranças, momentos pós-acidente, até hoje não consegui lembrar, de fato, tudo que ocorreu.

De uma coisa eu tenho certeza, aquilo foi um milagre de Deus, 2 de dezembro de 2009, o dia em que eu nasci de novo. Se você está lendo isso, você está diante de um milagre de Deus.

Hoje, tenho certeza que Deus realmente me ama. Se eu tivesse morrido naquele dia nunca teria alguém para testemunhar o que Deus fez na minha vida na tarde de 2 de dezembro de 2009 entre o km 912 e o 914 da BR-101.

Digamos que mesmo tendo 38 anos, neste 2 dezembro, eu completo quatro anos de vida.

Eu quero compartilhar isso com você.

Jotta Mendes é Radialista e Repórter


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