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Existe um sindicato do crime instalado no extremo sul?

12/01/2015 - 14h28
Coluna Pensando com Coragem

Olá, amigo. Estamos de volta em mais uma semana, que é a segunda do ano, mas, já deixou marcas profundas na nossa sociedade. Rogamos a Deus que proteja nosso povo, que nos devolva aquilo que foi roubado: a nossa paz.

Já contabilizamos um número impressionante de mortes violentas, não mortes ocasionais, como é o caso de acidente, mas, com características de execuções, isso em todos os recantos do extremo sul.

Apenas Ibirapuã já registrou dois homicídios nestes primeiros dias de 2015, Lajedão, teve o registro de um homicídio. Vereda não ficou para trás: além do registro de cerca de três assassinatos, teve um confronto com a polícia, o que elevaria para quatro mortes violentas.

Alcobaça também já entrou no mapa da violência. Mucuri também já viveu momentos de intensa violência, inclusive, com o desaparecimento de um dos seus cidadãos, que é o filho do colega radialista Juca Andrade. Nova Viçosa virou sinônimo de violência, Posto da Mata, seu maior distrito, volta e meia é alvo de crimes bárbaros. Itamaraju está sempre na página policial, cada dia uma morte mais estranha que a outra.

Itanhém também tem sido alvo de constante violência, Medeiros Neto é outro lugar que sempre está chamando atenção pelos crimes que lá acontecem. Caravelas também está inserida no mapa da criminalidade. Prado é outro lugar em que impera a violência. Jucuruçu, minha terra natal, sempre tem registradas mortes violentas.

Teixeira de Freitas, como sempre, é a capital de tudo isso, como a maior das 13 cidades do baixo extremo sul, sempre aparece no mapa da violência, mas, este início de ano tem sido pior em número de mortes violentas. Apenas nos primeiros 10 dias de 2015 foram registrados 7 homicídios, quase uma morte a cada dia.

O pior de tudo é que o histórico das mortes é sempre o mesmo: “homens” armados chegam de carro, ou, motocicleta, fazem suas vítimas e somem para nunca mais serem encontrados. Isso mesmo. Nunca mais serem encontrados. A cada 100 mortes registradas em Teixeira de Freitas, cerca de cinco são esclarecidas; o índice de homicídios esclarecidos em Teixeira de Freitas não chega aos 5%.

Eu pergunto: por que os crimes não são esclarecidos?

As autoridades policiais já chegam ao local tentando deixar evidente de que a motivação para o crime tenha sido o tráfico de drogas. E se for, não precisa ser esclarecido?

Por acaso, existe pena de morte em nosso país?

Ao que parece, a pena de morte foi implantada sem precisar ser aprovada pelo Congresso Nacional. Estamos observando nossos jovens serem abatidos como se faz com frangos, aliás, nem isso, porque até frango para ser abatido precisa de um local adequado.

As normas de higiene não permitem mais que animais cuja carne será para o consumo sejam abatidos em locais inadequados. Nossos jovens não estão sendo tratados nem como animais que se abatem para o consumo, estão sendo mortos em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer forma. Não se respeita igreja, escola, hospital, local de trabalho, via pública, qualquer lugar tem sido utilizado para se cometer crimes.

Eu já tive o desprazer de cobrir assassinatos em tanto lugar que me falta até palavras para descrever aonde tive que entrar para registrar o que tinha ocorrido. Já registrei, inclusive, jovens que foram executados debaixo da cama, numa característica de que a vítima tentou fugir de seu algoz.

Se a cada 10 dias tivermos sete crimes de mortes em nossa cidade, ao final do ano teremos quase 250 mortes violentas. A maioria absoluta destes crimes são jovens entre os 12 e 35 anos; em poucos casos a vítima tem mais de 35 anos.

Já registramos alguns que as vítimas tinham menos de 12 anos, como é o caso da criança Gabriel, de 2 anos, que foi executada com tiros no olho dentro de sua casa no Ulisses Guimarães, este crime aconteceu há cerca de três anos, até hoje está sem solução.

Como já dissemos acima, apenas cerca de 5% dos crimes são esclarecidos, apenas nestes os responsáveis passam por alguma punição, 95% ficam como se nada tivesse acontecido, muitos deles sequer inquérito policial existe.

Aí vou fazer outra pergunta: será que existe um sindicato do crime em Teixeira de Freitas e região?

Ao que parece, sim, porque quase ninguém é punido pelos crimes que acontecem.

Onde não há punição, a tendência natural é que aquele tipo de crime se prolifere. Quando a Justiça deixa de punir, os criminosos continuam matando.

Não há como se combater a violência se não houver um devido aparelhamento das forças de segurança para se combater o crime.

Enquanto o crime conta com diversos “soldados” a seu serviço, que dispõem de uma devida estrutura, como veículos bem abastecidos, outros para dar suporte, armas com munição de sobra, temos que admitir que, para a polícia, às vezes, faltam viaturas, quando tem, falta combustível.

No quesito polícia investigativa o déficit é ainda maior. Temos um delegado e cerca de quatro ou cinco investigadores que precisam se revezar nos plantões para poder investigar.

Como não tem como investigar, não há como punir.

Parece que o Estado tem interesse no aumento da criminalidade, pelo menos a cada quatro anos o governador vai prometer melhorar a segurança.

Será que o crime financia a campanha dos políticos de nosso Estado?

Então, vem alguém me dizer “bandido bom é bandido morto”. Isso é uma visão retrógrada de alguém que não possui qualidade suficiente para emitir opinião publicamente. Primeiro que a carta Magna Brasileira, a Constituição de 1988, diz que todos são inocentes até que se prove o contrário.

Depois, se fosse bom, não seria bandido, seria cidadão de bem. Quero parafrasear a professora Andrea Oz, que diz o seguinte: “Bandido bom é bandido recuperado”, porque, se for recuperado, deixa de ser bandido.

Agora, se a Constituição diz que perante a lei todos são inocentes até que se prove o contrário, como se chegou à conclusão de que quem morreu é bandido?

Que eu saiba, no Brasil, ou, em qualquer país, não se pode julgar quem morreu.

Se ele não foi julgado com vida, não pode ser julgado depois da morte, até porque a Carta Magna reza que todos têm direito a defesa. N o caso de quem morreu seu direito a defesa foi cerceado e cercear o direito a defesa pode inocentar qualquer condenado.

Vou finalizar minha coluna desta semana fazendo essa pergunta: existe um sindicato do crime na nossa região?

Pelo que percebo parece que existe. Temos elegido inúmeros deputados, estaduais, federais, senadores, governadores e ninguém faz nada. Isso só me leva a crer que existem políticos em nossa região e no nosso Estado financiados pelo crime. Não sei quem são, quando eu souber, pode ter certeza ­­– vou denunciar; ou não me chamem mais de “Repórter Coragem”.

Jotta Mendes é radialista e repórter


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