Colunistas

Gel Lopes: há 60 dias silenciaram uma voz e calaram o Extremo Sul

27/04/2014 - 19h12
Coluna Pensando com Coragem

Queridos amigos, abro minha coluna dessa semana, de certa forma, com a voz embargada e coração amargurado, passaram-se 60 dias da morte do jornalista Jeolino Lopes Xavier, o “Gel Lopes”, de 44 anos, crime ocorrido em 27 de fevereiro, na rua da Saudade. Foram cinco os disparos de uma pistola 9 mm que silenciaram Gel Lopes e calaram o Extremo Sul.

O crime contra Gel Lopes, além de ser um atentado contra a liberdade de expressão, de imprensa e tudo mais, mostra que estamos reféns da criminalidade; mataram Gel e nós é que ficamos com medo.

Medo de sermos a próxima vítima, medo da impunidade, medo de sair às ruas, que estão manchadas de sangue. Sangue de pessoas inocentes, que há um bom tempo a polícia vem usando o artifício de dizer que o crime é relacionado ao tráfico de drogas; desculpas para não investigar.

Como se a droga fosse sozinha e fizessem suas vítimas, como se a droga não tivesse seus cavaleiros, ou, mulas – como usam na linguagem do crime. Isso leva muitos pais e mães a perderem seus filhos e se contentarem a saber que os mesmos tinham envolvimento com o tráfico de drogas.

Afinal, quem mata em razão do tráfico de drogas não precisa ser punido?

Parece que não.

O que mais estranha no fatídico caso Gel Lopes não é nem o fato de ele ter sido executado, isso ninguém pode reverter, o que mais estranha é o silêncio das autoridades.

Ninguém fala nada, até mordaça tentaram impor na própria imprensa; o único fato no país onde a imprensa quis amordaçar a imprensa.

Normalmente, a imprensa é vitima de tentativa de mordaça por parte dos poderosos, no caso Gel Lopes, a própria associação que foi criada pra defender e organizar a classe tentou amordaçar, querendo que todos não publicassem nada sobre o fato que não fosse passado pela própria associação antes.

Isso, além de ser uma aberração, é um atentado contra a própria classe. Jornalistas vivem de divulgar fatos, imagine agora, jornalistas proibindo jornalistas de divulgarem tais fatos, seria cômico se não fosse verdade.

Quando isso aconteceu, um jornalista amigo meu, que não é da região, mandou pra mim a seguinte mensagem: “Imagine a ABERT proibindo a Globo de falar sobre determinado assunto”, seria a mesma coisa.

Tenho orgulho de ter ganhado uma moção de repúdio por descumprir a regra.

Eu fui agraciado com uma moção de repúdio – diga-se de passagem, assinada por parte da AIESBA, porque a outra parte foi contra –, porque noticiei no nosso site que o prefeito da cidade havia sido ouvido no caso Gel Lopes.

Imagine o disparate, repudiar um jornalista por divulgar um fato.

É vivendo e aprendendo.

Eu até desculpo as pessoas que fizeram isso, a maioria sequer sabe qual o verdadeiro papel do jornalista, está na profissão apenas pra tomar dinheiro dos outros, ou, pra fazer serviço sujo.

“Mas, eu pergunto e resposta, é que ninguém sabe, ninguém nunca viu

Essa é uma frase de uma música que foi muito utilizada quando do desaparecimento de Ivan Rocha. Pena que a pessoa que mais a utilizou naquela época, hoje está proibindo gente de tocar no caso Gel Lopes.

Imagine a situação, de ícone na cobrança pelo esclarecimento de um crime a mensageiro para que outro seja esquecido.

É assim a vida. “Quanto mais conheço os ditadores, mais eu amo meu cachorro”.

Vamos seguindo, minha pergunta é o porquê do silêncio das autoridades e a covardia de quem deveria cobrar?

Passaram-se 60 dias, nada foi esclarecido; não se tem conhecimento de nenhuma diligência da Polícia Civil para esclarecer o caso.

Até quando o crime ficará impune?

Responda-me quem souber.

Jotta Mendes é radialista e repórter


Deixe seu comentário