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Quem será o “Bode Expiatório”, usado para justificar a morte de Gel Lopes?

02/03/2014 - 16h53

Quem será o “Bode Expiatório”, usado para justificar a morte de Gel Lopes?

Coluna Pensando com Coragem

A quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014, entrará para sempre na memória de todo o Extremo Sul da Bahia, como um dia negro. Pois o chão da cidade de Teixeira de Freitas foi manchado pelo sangue de um jornalista, que em pleno exercício de sua profissão, acabou sendo vítima da violência que assola todo o Brasil. O crime, desta vez, veio para calar a voz de alguém que denunciava os desmandos dos políticos desse Extremo Sul.

Nos quatro cantos do Extremo Sul (e porque não dizer do Brasil?), o sentimento de consternação pela morte de Gel Lopes tomou conta da sociedade. Pois, imediatamente, as  redes sociais ficaram cheias de homenagens, condolências e pedidos de providências. Todos clamando por justiça pelo sangue de um pai de família, derramado de forma covarde e injusta.

Particularmente, sofri na pele a dor da perda, pois para mim seria uma noite tranquila. Cheguei em casa após o trabalho, tomei banho descansei e resolvi visitar uma amiga. De repente, recebi a ligação do meu irmão, Neto Eletricista, que já estava preocupado achando que a vítima teria sido eu. Quando falou comigo ele se tranquilizou e me informou o que tinha ocorrido. Eu, imediatamente, fui para o local, foi questão de minutos para que eu chegasse lá.

Na ligação, meu irmão apenas me informou que Gel Lopes teria sido baleado. Ao chegar ao local deparo com uma das cenas que muito dificilmente sairá da minha cabeça; o filho da vítima, o jornalista Jóris Bento Xavier, deitado ao chão, chorando de desespero por perder o pai. E a esposa da vítima sentada numa cadeira próximo ao local com a perna ferida a bala. Eu ainda não acreditava que Gel estava morto. Conversei com os policiais e eles me confirmaram o fato que a minha mente fazia questão de não querer aceitar; Gel Lopes já estava sem vida.

Naquele momento, o desespero de Jóris, já era meu. Uma angústia muito grande começou a tomar conta de mim. Porém, nem tive tempo de ficar angustiado; eu tinha que me manter forte para tentar conter o desespero de Jóris. Pois só quem perde o pai, sabe que não é fácil. E perder de forma injusta e traiçoeira é pior ainda.

Meu telefone tocava sem parar, uns me dando a informação sobre o acontecido, outros querendo saber se eu também não corria risco de vida. Meus familiares, colegas de trabalho e amigos todos ficaram muito preocupados.

Os colegas de imprensa, aos poucos, foram chegando. Cada um se lamentava de uma forma. Ninguém, no entanto, foi mais emotivo que Thiago Ramos, o “Capitão dos Repórteres”.  Era uma mistura de desespero, revolta e impotência. Para ele aquilo era uma afronta, não só aos jornalistas e repórteres, mas para todos que um dia lutaram para que tivéssemos direito a liberdade de imprensa.

No final da perícia a constatação; seis disparos de pistola 9 milímetros, foram utilizados para silenciar a voz do jornalista. A bala de 9 milímetros é preparada para romper carro forte e seis balas dariam para matar muito mais que seis. Pois o poder dessa bala é devastador.

Mas as inquietações começaram. A quem interessava o silencio de Gel Lopes?  Quem teria tanta raiva de Gel Lopes, a ponta de tirar sua vida de forma tão cruel?

Porque tanta violência foi utilizada para calar a voz do jornalista?

Essas e muitas outras perguntas precisam ser respondidas. Mas quem nos dará essas respostas? A Polícia Civil? O poder Judiciário? Ou será mais uma incógnita?

É muito comum, em nossa região, usar uma tática chamada “Bode Expiatório”, para justificar a autoria dos crimes.

Você pode até não entender o que estou dizendo. Eu explico: bode expiatório é quando uma pessoa ou coisa é usada para justificar crimes ou atos indevidos de outro.  É quando transformam a vítima em marginal, traficante, ladrão, assassino e etc. E usam como principal motivação do crime o tráfico de drogas. Ou, em alguns casos, crime passional, quando há envolvimento amoroso. Logo, apresentam um acusado o qual não consegue convencer nem o próprio delegado e muito menos à sociedade.

Isso aconteceu no caso de Mauricio Cotrim, usaram tanto Bode Expiatório, que ninguém sabe qual a verdadeira versão do crime. Outro caso que vale salientar é de André Serra, o qual usaram  Nélis Araújo como bode expiatório acabando a com a carreira de um bom delegado. Não convenceu ninguém e o crime ficou impune. E agora querem arrumar um bode expiatório para o caso Gel Lopes.

Durante o enterro de Gel uma pessoa ligada à administração municipal já estaria tentando empurrar “goela abaixo”, a famosa “Máfia do Carvão”, como bode expiatório para o crime ocorrido com o jornalista. No entanto, a Máfia do Carvão nunca existiu. A única finalidade daquele verdadeiro espetáculo circense foi ajudar as grandes empresas de celulose e acabar com o pequeno produtor de carvão. E consequentemente aumentando a arrecadação de impostos do governo do estado. Mas a dúvida ainda continua; já que a Máfia do Carvão foi pra valer, o que aconteceu com os acusados?

O prefeito, João Bosco, discursou durante funeral e tentou ligar o caso Gel Lopes, ao caso Cotrim e Ivan Rocha. João Bosco chegou a dizer que o caso Gel Lopes unia o radialista Ivan Rocha e o político Mauricio Cotrim. Claro que os casos têm semelhanças, mas qual interesse da ligação?

Onde está o dossiê que Gel teria acabado de montar em Salvador e Camaçari e outros municípios da região metropolitana na Bahia? Sobre quem falava esse dossiê? Qual era o assunto do mesmo?

Qual era administração da região do Extremo Sul, que coloca sub judice, os processos licitatórios?

Qual cidade do Extremo Sul, a maioria das empresas vem de Salvador, Camaçari e região metropolitana da Bahia? Alguém sabe sobre o que tratava o dossiê? São inúmeras as suposições e indagações.

Pode se dizer, até, que ele se envolveu com uma mulher e o cara traído contratou cinco pistoleiros, colocou um veiculo corola a disposição dos indivíduos armados com uma pistola 9 milímetros.

Pelo histórico do crime, mesmo quem não conhece muito de investigação, percebi que o homicídio foi planejado. Pois o local onde a vítima foi alvejada, não era um local que ele frequentava todos os dias.  Ele, ocasionalmente, foi levar o colega, repórter esportivo Djalma, que está recém-operado.

Será que um homem traído planejaria tanto um crime desses?

E a Máfia do Carvão, porque demoraria tanto tempo para cometer o crime? Já se faz quase dois anos que Gel teria tocado na suposta máfia. Eu daria tudo para ter acesso ao conteúdo do dossiê trago por Gel da região metropolitana da Bahia! Como eu queria ver aquele vídeo! Mas acho que meu desejo será difícil de realizar.

As forças de segurança do nosso estado precisam saber que não vamos aceitar o “Bode Expiatório” como autor do crime de Gel Lopes.

A imprensa do extremo sul está unida, vamos juntos lutar para que a Polícia Federal faça uma investigação séria, coerente e verdadeira.  Lutamos para que haja justiça e não algo montado para “tampar o sol com a peneira”.

Gel Lopes tinha seus erros, como todo ser humano tem, mas não vamos aceitar que o transformem em bandido.

Não queremos “Bode Expiatório”! Lutamos por justiça honesta e verdadeira para que um dia possamos acreditar novamente na justiça brasileira.

Não retiro nem uma vírgula do eu escrevi.

Jotta Mendes é radialista e repórter 


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