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Reparação da tragédia de Mariana tem orçamento de quase R$ 3 bilhões

19/03/2019 - 09h12

A Fundação Renova apresentou na última quinta-feira, 14 de março, uma previsão das atividades a serem desenvolvidas em 2019 visando a reparação dos danos causados pela tragédia de Mariana (MG). Também foi divulgado o orçamento para este ano. Devem ser gastos R$ 2,94 bilhões, 35% a mais do que o previsto para 2018. A maior parte dos recursos deverá ser usada nos pagamentos de indenizações e de auxílios emergenciais.

A tragédia de Mariana ocorreu em novembro de 2005, quando 39 milhões de metros cúbicos de lama vazaram após o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco. O episódio deixou comunidades e florestas destruídas, mananciais da bacia do Rio Doce poluídos e 19 mortos. Para reparar os danos, foi firmado em maio de 2016 um acordo entre a Samarco, suas acionistas Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Na época, estimou-se que seriam necessários cerca de R$ 20 bilhões, a serem gastos ao longo de 15 anos. Foram definidos 42 programas que englobam, por exemplo, as indenizações, a reconstrução das comunidades, a garantia de educação e saúde aos atingidos e a recuperação ambiental. O acordo também estabeleceu a criação da Fundação Renova, que ficou responsável pela gestão dos programas usando recursos das três mineradoras.

A entidade calcula já ter gasto R$ 5,2 bilhões desde que a tragédia ocorreu. Se o orçamento de 2019 for executado na íntegra, até o final do ano pouco mais de R$ 8 bilhões terão sido destinados ao processo de reparação dos danos.

Segundo o presidente da Fundação Renova, Roberto Waack, um levantamento interno sobre investimentos privados em Minas Gerais mostrou que não há nenhuma outra iniciativa se aproximando dos valores empregados pela entidade.

O volume de recursos que está sendo alocado, especialmente naquilo que é de caráter compensatório, como as obras de infraestrutura, de tratamento de esgoto e as atividades de restauração florestal, é um aporte importante para os estado de Minas Gerais e do Espírito Santo. O enfoque sempre é dado com razão à reparação do desastre, mas esse componente de desenvolvimento econômico começa a se fazer presente de forma notável nos dois estados“, disse.

Para definir o orçamento deste ano, a Fundação Renova levou em consideração que quase a totalidade do montante previsto para 2018 foi executado. A entidade espera que o programa de indenizações seja praticamente concluído em 2019 e, para tanto, são previstos gastos que somam aproximadamente R$ 1,1 bilhão. O montante representa 36% do orçamento, a maior fatia dos recursos previstos. Esse valor inclui também os custos do auxílio emergencial, que não configura verba indenizatória e deve ser pago mensalmente por meio de um cartão concedido a quem perdeu sua renda em decorrência do rompimento da barragem. A quantia é de um salário mínimo, acrescido de 20% para cada dependente, além do valor de uma cesta básica.

Segundo a Fundação Renova, desde que ocorreu a tragédia há mais de três anos, já foram pagos R$ 1,4 bilhão em indenizações e auxílios financeiros para cerca de 300 mil pessoas distribuídas nas 39 cidades consideradas afetadas. Entre elas, estão, por exemplo, moradores prejudicados com a interrupção do abastecimento de água e pescadores. Em Mariana, o processo de pagamento de indenizações tem andado de forma mais lenta devido a algumas peculiaridades. A situação vem sendo discutida no âmbito da Justiça mineira, enquanto a Justiça Federal é a responsável pelas questões que envolvem os demais municípios afetados.

As vítimas de Mariana também conquistaram, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o direito de elaborarem seu próprio cadastro que servirá de base para as negociações do processo indenizatório. A responsável por esta tarefa é a Cáritas, entidade escolhida pelos próprios atingidos para assessorá-los. Ela vem preparando um dossiê para cada vítima e também selecionou instituições de pesquisa para apresentação de uma matriz de danos, isto é, uma tabela com a valoração de cada um dos prejuízos materiais e imateriais.

A Fundação Renova diz que 890 cadastros já foram concluídos e que 12 famílias já firmaram acordo para receber a indenização final. Outras 361 já receberam antecipações parciais. Também já houve acordo e pagamento de indenização aos parentes de 16 dos 19 mortos. Das três famílias restantes, uma recebeu valores parciais e as outras duas ainda discutem a situação na esfera judicial.

De acordo com a Fundação Renova, do total de R$ 1,1 bilhão reservados no orçamento de 2019 para as indenizações, R$ 316 milhões são especificamente para as vítimas da cidade de Mariana. A entidade diz também que, do restante, R$ 502,5 milhões são para o pagamento de indenizações e auxílio financeiro a pescadores e R$ 147 milhões para agricultores e outros profissionais e comerciantes em toda a bacia.

Por ser um processo em escala jamais vista no mundo, o pagamento de indenizações é um dos maiores desafios da Fundação Renova. Pela natureza dos danos, o maior montante das indenizações será voltado para o pagamento de pescadores e para a implementação de políticas para pescador de fato e pesca de subsistência. A política de pescador de fato amplia os critérios de elegibilidade, possibilitando o reconhecimento daqueles que praticavam a pesca comercial artesanal, mas não possuem meios de comprovar o ofício, devido à alta informalidade do setor“, explicou a Fundação Renova em nota.

O programa de reassentamento responde pela segunda maior fatia do orçamento de 2019. São R$ 235 milhões. Está previsto para este ano o início da reconstrução das casas nas comunidades. O desenho dos imóveis está sendo elaborado por uma equipe de arquitetos levando em conta desejos de cada família. Conforme acordo firmado entre a Fundação Renova e o MPMG, as residências deverão ter no mínimo 20 metros quadrados a mais do que a que foi devastada.

O distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, é o que tem a reconstrução mais adiantada. Estão em curso obras de infraestrutura, que envolvem, por exemplo, a abertura das ruas, instalação de redes de esgoto e pavimentação. No caso de Paracatu, outra comunidade de Mariana, o canteiro de obras está sendo implantado e o passo seguinte será a supressão vegetal da área.

Já em Gesteira, distrito de Barra Longa (MG), a situação é a mais atrasada. O terreno onde a comunidade será reconstruída foi adquirido apenas no fim do ano passado. Enquanto o reassentamento não é concluído, os atingidos vivem em casas alugadas pela Fundação Renova.

O orçamento de 2019 prevê ainda que R$ 82 milhões sejam destinados especificamente para obras de saneamento e R$ 42 milhões para monitoramento da qualidade da água do Rio Doce. Há também recursos estabelecidos para a recomposição de áreas de proteção permanente e recuperação de nascentes e para manejo dos rejeitos.


Edição Bell Kojima/Repórter Coragem

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