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Primarização do setor de celulose causará prejuízo de R$ 170 milhões no Extremo Sul

31/07/2013 - 00h12
empresa Suzano industria

Ao anunciar o acordo firmado no dia 11 de julho com a Suzano Papel e Celulose, que irá eliminar completamente a terceirização em todas as atividades-fim da empresa no prazo máximo de três anos, o Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPTBA) informou que a expectativa é que centenas de trabalhadores sejam contratados para trabalhar nas fazendas espalhadas por São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Piauí e Tocantins. Essas centenas substituirão uma força de trabalho composta, atualmente, por aproximadamente 11 mil terceirizados em todo o pais. A Suzano, segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, possui também mais de 6 mil empregados próprios. Somente no Extremo Sul da Bahia, as empresas prestadoras de serviços geram 4.095 empregos diretos e 12.852 empregos indiretos, informa o presidente da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços no Extremo Sul da Bahia (Aepses), Jean Rocha.

A expectativa de substituição esses milhares de postos de trabalho por apenas “centenas” de vagas contratadas diretamente pela Suzano dá uma ideia do tamanho do desemprego que o acordo de primarização provocará na região do Extremo Sul da Bahia, onde a Suzano mantém extensas áreas com plantação de eucalipto. “Com a primarização, as empresas de celulose passarão a não contratar os serviços de nossas empresas, causando uma perda de R$ 170 milhões ao ano na região do Extremo Sul”, alertou Jean Rocha.

A ameaça de desemprego em massa e consequente empobrecimento econômico da região levaram a uma mobilização imediata das empresas prestadoras de serviços da Suzano e associados da Aepses. No dia 17 de julho, em reunião realizada no distrito de Posto da Mata, em Nova Viçosa, foi lançada a campanha “A Força que vem da Floresta”.  “Essa campanha visa tornar público o que as empresas que fazem o serviço terceirizado representam nas comunidades em que atuam em termos de investimento, de compras no comércio, de pessoas contratadas”, acrescentou Jean Rocha.

Além dos quase 17 mil empregos diretos e indiretos gerados no Extremo Sul baiano, as empresas prestadoras de serviços possuem 2.446 fornecedores, significando uma contribuição para o Extremo Sul baiano de R$ 73,4 milhões e gerando 78,7 milhões de renda somente no comércio, explicou o presidente da Aepses. Também geram arrecadação de R$ 7,5 milhões de ISS, R$ 347 mil de IPVA e R$ 10,5 milhões de INSS. Segundo Jean, somente em 2012 as empresas prestadoras de serviços movimentaram a economia da região R$ 170.202.943,42. “Os nossos números são oriundos de uma força que vem da floresta e são transformados em qualidade de vida para o Extremo Sul da Bahia”, destacou.

De acordo com Carlos Robson, o Robinho, ex-prefeito de Nova Viçosa e assessor do atual prefeito Márvio, a Suzano reconheceu, em reunião realizada com representantes das prestadoras de serviço e do poder público, que a primarização praticamente vai acabar com a circulação financeira dentro das comunidades, principalmente em Itabatã, Posto da Mata e Teixeira de Freitas. Além disso, prefeituras como de Alcobaça, Caravelas, Nova Viçosa e Mucuri praticamente não irão mais recolher ISS (Impostos sobre Serviço).

“Para que, então, esses municípios querem esse elefante branco, que ocupa, somente em Nova Viçosa, mais de 60% da área produtiva com plantação de eucalipto?”, analisa Robinho.  “Como esses municípios que têm a maior parte de sua área produtiva na mão de uma única empresa vão sobreviver sem receber um centavo de imposto e sem circulação financeira nenhuma para o comércio?”, questiona. Segundo ele, os prestadores de serviço, que foram úteis nesses anos de vida da Suzano na região, simplesmente agora são jogados de lado pela gigante da celulose.

O presidente da Câmara de Nova Viçosa, Rogério Benjamin, observou que, ao firmarem a conciliação com a Suzano, os procuradores do Ministério Público do Trabalho não levaram em conta a realidade vivida pelos municípios que mantêm relação com a empresa. “Caso contrário, a decisão não seria firmada da forma como foi”, disse Rogério.

Para o empresário Vilmar Sabatini, o processo de primarização terá um impacto muito negativo no Extremo Sul baiano. “Nós temos uma preocupação não como empresa, mas sim como moradores da região, porque isso terá um impacto muito negativo no comércio. Essa preocupação já pode ser percebida de forma unânime entre os comerciantes de Teixeira de Freitas e dos demais municípios da região que serão afetados pelo fim da terceirização”, salientou Vilmar.

No meio político e empresarial de Teixeira de Freitas, muito se especula sobre as reais razões que teriam levado ao acordo. Comentários diversos chegaram a levantar a hipótese de que o acordo com o MPT tenha sido articulado pela própria Suzano, cuja primarização estaria prevista na estruturação promovida pelo novo presidente da empresa, Walter Schalka, visando a redução dos custos e aumento de lucros. Muitos questionam se a Suzano teria usado sua influência e recursos em prol de uma articulação jurídica para induzir a posição do MPT na ação. Também consideram irrisório o valor da indenização estipulado – R$ 2 milhões -, se levado em conta o poder econômico da empresa.

Diante da possibilidade de falência financeira dos municípios do Extremo Sul com o acordo, lideranças políticas responsabilizam o Ministério Público do Trabalho pelas consequências dessa ação.

O deputado constituinte, atual suplente de deputado federal e presidente do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos Humanos, Uldurico Pinto, pediu cautela sobre a acusações de que haveria evidências de fraude e de o processo teria sido supostamente patrocinado pela Suzano. Disse, no entanto, que caso isso fique configurado, a região corre o risco de explodir e declarar guerra à gigante mundial do setor de celulose.

Com informações do Teixeira News


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