Após saber que Bolsonaro não pretende contar com ele depois de 2022, o general Mourão sobe o tom nas críticas
Quem labuta na política sabe que o timing precisa ser perfeito. Muitas candidaturas potencialmente vitoriosas morreram na praia porque foram lançadas cedo ou tarde demais. O que muita gente se esquece é que descartar um eventual companheiro de chapa antes da hora também pode trazer dificuldades. Bastou a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro teria a intenção de disputar a reeleição em 2022 sem o general Hamilton Mourão ao seu lado que o vice-presidente voltou a dar aquelas declarações mais críticas à administração federal que marcaram boa parte do ano de 2019.
Mourão afirmou numa entrevista publicada na sexta-feira que o governo federal vai comprar sim a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, se comprovada sua eficácia. Segundo o vice-presidente, as declarações de Bolsonaro, que disse que não iria comprar o imunizante, seriam apenas “briga política” com o governador de São Paulo, João Doria. Fiel ao seu estilo, o presidente respondeu poucas horas depois da publicação: “A caneta Bic é minha”. Ele não citou nominalmente o seu vice-presidente, mas nem precisava.
“Essa questão da vacina é briga política com o Doria. O governo vai comprar a vacina, lógico que vai. Já colocamos os recursos no Butantan para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí”, declarou o vice-presidente Hamilton Mourão à revista Veja.
Na semana passada, menos de 24 horas após o Ministério da Saúde anunciar que tinha a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro Eduardo Pazuello e afirmou que o imunizante contra o novo coronavírus “não será comprado” pelo governo brasileiro. Bolsonaro chegou a dizer que existe um “descrédito muito grande” em relação ao imunizante chinês.
O presidente, que se mostrou bastante contrariado na semana passada ao ver uma aparente aproximação de seu ministro da Saúde e o governador paulista, agora teve que ler a notícia de o vice considera a vacina chinesa um caminho plausível.
A Coronavac tem sido alvo do debate entre Bolsonaro e seu adversário político, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Numa reunião com governadores, Pazuello havia dito que o governo brasileiro iria usar a vacina no SUS (Sistema Único de Saúde).
Diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que a declaração do vice-presidente é “excelente” e que “demonstra que ele entende a importância da vacina nesse momento crítico da vida nacional.
Além disso, Mourão também afirmou na entrevista que não tem receio em tomar a CoronaVac, caso ela seja certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele disse ainda que a China é uma “potência global, que pratica um capitalismo de Estado”. E que empresas chinesas que demonstrem compromisso com “soberania, privacidade e economia” têm condições de participar do leilão do 5G no Brasil, novamente contrariando o seu companheiro de chapa em 2018. Bolsonaro tem dado sinais de que pende para a tecnologia dos Estados Unidos.
O vice-presidente deu nota oito para o Brasil no combate à pandemia da Covid-19. Na sua justificativa, disse que o país era desigual, que não houve segunda onda e que o sistema de saúde suportou a crise.
O futuro
O vice-presidente afirmou ainda acreditar que é alvo da conspiração de pessoas da confiança do presidente, apesar de não saber quem são. E que isso não o preocupa.
Questionado sobre a possibilidade de o presidente buscar a reeleição com outro vice em sua chapa, ele respondeu que, atualmente, não tem pretensão de concorrer a outro cargo público, mas que talvez pudesse disputar o Senado.
“Eu vou me candidatar a governador? Complicado, já estarei com quase 70 anos. Acho que, para governar determinados estados aqui no Brasil, o cara tem de ter uns 15 anos a menos. Também não me vejo deputado. Senado, talvez, aí sim. O Senado tem um outro diapasão, uma outra forma de agir, de atuar. Pode ser uma possibilidade”, disse.
Há uma semana, reportagens da Folha e do Estadão contaram que o presidente disse a pelo menos três parlamentares que trocaria de vice na próxima eleição. “Ele não dá”, teria afirmado. Diplomático, Mourão disse em entrevista à Bandnews FM que ainda faltava muito até 2022, mas que estava à disposição de servir ao país.
O vice-presidente mantém inalterada a rotina de encontros com grupos empresariais, onde desfila com um discurso bem mais moderado que o número um do Planalto. Sua visita à Bahia seguiu este script. Ele participou nesta sexta-feira da cerimônia de inauguração do Instituto Senai de Sistemas Avançados de Saúde, no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia do Senai (Senai Cimatec), em Salvador.
Mourão elogiou o Sistema S, destacando o seu papel na preparação de trabalhadores.
Durante uma live com empresários do setor de infraestrutura, as palavras do vice-presidente foram muito bem recebidas.
Apenas, mais um sinal que Mourão pode até não estar na chapa de Bolsonaro em 2022, mas está longe de ser uma carta fora do baralho. Donaldson Gomes e agências / Coreio24horas
Fonte: Jornal Alerta