Jaques Wagner vira alvo maior de vaias; ACM Neto é aplaudido, mas não escapa
Mesmo avisados de que as vaias seriam trilha sonora para eles no cortejo do Dois de Julho, o governador Jaques Wagner (PT) e o prefeito ACM Neto (DEM) nadaram na maré contrária à de grande parte dos políticos brasileiros, que vêm mantendo distância das ruas nos dias de protestos. Ontem, ambos enfrentaram manifestações de servidores e estudantes e encararam a irreverência natural dos baianos na sua data magna.
Neto, ainda em início de mandato, conseguiu colher aplausos e acenos das sacadas em sua primeira participação na festa como prefeito. Já Wagner, com quase sete anos na vitrine do poder, sofreu mais. O petista acabou virando o principal alvo dos protestos populares no desfile. Da Lapinha ao Terreiro de Jesus, não encontrou um momento de trégua dos populares.
A claque do governo até que tentou abafar o som das vaias com palmas e gritos de “Viva ao Dois de Julho”, mas os manifestantes que ocupavam o trajeto, através de faixas, cartazes ou com a própria voz, não pouparam críticas à gestão petista.
No rol das queixas, coube de tudo. Mas os gastos da Copa do Mundo, a reforma política e a ausência de investimentos em saúde, educação e segurança foram os temas centrais dos protestos.
Naturalidade
Sem demonstrar tensão com as manifestações contrárias, o governador lembrou que o Dois de Julho tem como marca a liberdade para manifestações. “Esta é a data maior da Bahia, sempre teve essa característica de apropriação popular. O Dois de Julho foi feito por negros, índios, portugueses rebeldes, ou seja, desde o seu nascedouro teve essa conotação de ser uma festa da cidadania. A rua grita e o político tem que ouvir”, disse.
Wagner afirmou ainda que não tem nenhuma proposta imediata com intuito de responder às manifestações das ruas. Para compensar, falou em investimentos: “Já entregamos seis novos hospitais para a Bahia e mais R$ 1 bilhão para o metrô. A população cobra porque não está pronto ainda”, ponderou.
O mesmo tom de naturalidade frente às vaias foi adotado pelo vice-governador, Otto Alencar (PSD). “Esse é o palco ideal para que a população faça reivindicações. Essa não é a primeira vez que participo do Dois de Julho e acho natural”. Ao redor da comitiva do governo, homens da Casa Militar, à paisana e fardados, fizeram um cordão de isolamento ao redor de Wagner.
Reflexos
O secretário da Casa Civil, Rui Costa, um dos pré-candidatos à sucessão estadual em 2014, disse não temer que os protestos atuais recaiam sobre sua possível candidatura. “Acho que ainda está muito cedo para falar em pesquisas. A um ano e meio da eleição, muita coisa pode mudar. Esse é um momento de cobrança e o povo não consegue distinguir de quem é o problema”, afirmou.
Para Wagner, a queda no percentual de aprovação do governo Dilma – de 27 pontos, segundo a pesquisa do Datafolha divulgada no último sábado – é natural do momento. Ele citou ainda como exemplo a queda de popularidade de Lula em 2005, após o escândalo do mensalão, não impediu sua reeleição.
Oposição
Logo atrás da ala governista no cortejo, o prefeito da capital conseguiu trafegar com mais tranquilidade. A população nas ruas e nas sacadas de prédios e das casas situadas ao longo do percurso se dividiu entre vaias e demonstrações de apoio a Neto. Mesmo com o esquema de segurança em torno do democrata, era comum ver o prefeito tirando fotos e conversando com pessoas que lhe procuravam para desejar boa sorte, cumprimentar ou até mesmo dirigir palavras ríspidas de cobrança.
Ciente de que também era alvo dos protestos, Neto enfrentou as manifestações contrárias com sorrisos e acenos. Quando as vaias se avolumavam, uma claque formada por servidores da prefeitura gritava palavras de apoio. Quando surgiam manifestações de apoio das portas das casas, o prefeito parava para cumprimentar eleitores, o que gerava empurra-empurra entre os seguranças. O próprio prefeito pediu liberação de passagem aos seguranças e reclamou do isolamento.
“Eu nunca participei de nenhum Dois de Julho onde meus admiradores deixassem de me aplaudir e aqueles que não me têm simpatia política vaiassem. Essa é uma tradição do Dois de Julho. Todo político está acostumado. Não será o primeiro nem o último Dois de Julho que isso acontece. O mais importante é que os aplausos superam qualquer tipo de manifestação negativa”, afirmou.
Do lado do prefeito, além dos secretários, estavam os principais nomes da oposição, que hoje disputam para saber quem será o candidato ao governo. Entre eles, o vice-presidente da Caixa, Geddel Vieira Lima, presidente do PMDB baiano, o ex-governador Paulo Souto (DEM), o secretário de Infraestrutura e Transporte, José Carlos Aleluia (DEM), e o ex-prefeito de Mata de São João o tucano João Gualberto.
Prisão
O momento de maior tensão no desfile ocorreu na Rua Direita do Santo Antônio, nas proximidades do bar Cruz do Pascoal, quando a produtora cultural Michele Perroni, 34 anos, foi detida por policiais do batalhão de Choque da PM, depois de arremessar um copo de cerveja em direção à comitiva do governador.
Errou o alvo e acabou atingindo um oficial da Casa Militar, que fazia a segurança do governador.
A ação da produtora quebrou o tom pacífico das manifestações populares na festa de Dois de Julho. O professor universitário Edgilson Tavares, que acompanhava a produtora, classificou como “truculenta” a abordagem dos policiais.
“Eram quatro homens para segurar apenas uma mulher e por isso ela tentou se defender”, contou EdgilsonTavares. Depois de alguns minutos detida, Michele foi liberada pela polícia.
Fonte: Correio da Bahia