Estudo inédito mapeia papel dos insetos para reverter degradação
Um estudo inédito sobre a população de besouros, mariposas e percevejos no bioma da Mata Atlântica auxiliará o Espírito Santo a identificar insetos que ajudam no desenvolvimento e recuperação de plantações, viabilizando até a redução do uso de inseticidas e demais produtos químicos na lavoura.
Financiado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com a Embrapa Florestas e o setor privado, o “Projeto Biomas” mapeia todos os seis biomas brasileiros, situando suas pesquisas de campo da Mata Atlântica numa região entre Sooretama e Linhares. A mais recente rodada de estudos já analisa os insetos colhidos para posterior catalogação.
Uma das maiores autoridades mundiais em identificação de insetos, o Ph. D. em Entomologia Paulo Sérgio Fiuza Ferreira veio ao Estado desenvolver o trabalho em conjunto com o Incaper. Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o especialista reitera o pioneirismo do estudo. “Através desse levantamento surgirão novas tecnologias e conhecimentos para os reflorestamentos agroflorestal e naturais, verdadeiros bancos genéticos para o desenvolvimento agrário, pecuário e farmacológico. Daí vão se tirar muitas noções, é uma pesquisa pioneira, e o produtor só tem a ganhar com essa abordagem em diferentes disciplinas. É uma coisa nova”, anima-se.
Coordenador do projeto no Espírito Santo, o pesquisador do Incaper David Martins, também Ph. D. em Entomologia, explica que o trabalho usa os insetos como indicadores para ganho biológico dentro de uma área regenerada. No caso, acompanha-se a evolução de uma área privada e degradada de pastagem de 33 km, arrendada pela CNA – e onde está sendo plantado um sistema agroflorestal.
“Nessas duas semanas, estamos trabalhando com a identificação e organização das espécies, para ver quais trazem danos ou benéficos à agricultura, quais são vetores de doenças”, frisa. “Essa iniciativa vai contribuir , inclusive, com um projeto do Incaper de levantar a biodiversidade de insetos do Espírito Santo. Queremos reunir em um só catálogo todas as espécies já registradas no Estado”.
Mais dois anos
De imediato, porém, ainda não há conclusões definitivas do estudo, cuja conclusão demandará mais dois anos. A partir desse grupo coletado, será possível apontar quais espécies causam danos às plantas de forma geral – as econômicas e as não-econômicas, e também identificar aqueles insetos que podem ser usados em controles biológicos.
“Isso, além do aspecto de identificar a biodiversidade insetos do Estado. Vetores, transmissores doenças… E esse trabalho vai ajudar o Incaper com orientação à nossa ponta da produção agrícola, que são os produtores rurais”, assinala David.
Em paralelo, segundo o pesquisador Fiuza, essa linha de estudo procura soluções práticas para o agricultor, e gastando menos recursos. “Fala-se muito em preservação, mas não se sabe conservar o quê, preservar o quê… Há muito tempo se trabalha a norma direta, que são insumos agrícolas, inseticidas, herbicidas, mas essa pesquisa vai ajudar a produzir sem poluir o ambiente e gerando menores gastos”, acredita Fiuza.
Em verdade, a CNA tem interesse máximo no novo Código Florestal em vigor e, como ressalta no site do projeto, pode usar os resultados para sugerir alterações na legislação ambiental.
Projeto foca reservas e áreas de preservação
Ante à exposição de pragas e à necessidade de aumentar produtividade, utilizar insetos pode ser ferramenta estratégica aos agricultores. Para o biólogo Paulo Sérgio Fiuza, o valor da pesquisa resulta de que 70% a 75% do que é vivo num ecossistema é representado pelos insetos, que detêm função “extraordinária” para recomposição de área.
“Mais que taxonomia, veremos a participação importante dos insetos numa área natural ou agroflorestal: como podem contribuir para a regeneração de cultivares, polinização, equilíbrio interno, como vão controlar agentes nocivos ou pragas, se é o caso de adentrar outros insetos para controlar, até que o sistema agroflorestal se estabilize”, observa.
Ligado à pesquisa de campo do projeto, o pesquisador do Incaper David Martins aponta observações acumuladas: “A partir da identificação, o que se nota, e já era esperado, é a área degradada saindo do zero, aumentado a quantidade de insetos, porque tem poder de adaptação e serve de base ecológica de qualquer ambiente equilibrado, serve à cadeia elementar dos vertebrados. Há um ganho bem rápido de colonização”.
O objetivo da coleta é oferecer a produtores rurais modelos de uso de árvore em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (ARL), para exploração adequada das propriedades conforme o Código Florestal. Iniciado há quatro anos com comparações anuais, feito nos mesmos lugares e previsto para ser lançado em 2018, o Biomas tem 26 subprojetos e participação do BNDES, mas perdeu a parceria com a reserva natural da Vale.
O material sobre análises de ganhos biológicos dará subsídio à pesquisa, assistência técnica e extensão rural no Espírito Santo, dono de interior eminentemente agrícola. Posteriormente, será elaborado relatório de espécies identificadas.
Fonte: A Gazeta