Famílias se endividam para bancar as compras do supermercado
Famílias precisam recorrer ao cheque especial e ao cartão para comprar comida
Após meses sem emprego, o locutor Dimitri Ribeiro está aos poucos reorganizando a sua vida. Com a carteira assinada, ele pretende pagar a dívida de cerca de R$ 10 mil com operadoras de cartão de crédito que contraiu quando estava desempregado. Sem ver outra solução para manter a comida na mesa, Dimitri se viu obrigado a parcelar as compras do supermercado, mesmo sabendo que não teria como cobrir as parcelas.
“Sabia que era arriscado parcelar a compra de comida e outros produtos que são consumidos todos os meses, mas na hora do desespero é preciso apelar para o que temos ao nosso alcance. Fiz isso duas vezes e perdi de vez o controle das contas. A gente pode deixar de pagar tudo, água, luz e telefone, só não dá para deixar faltar comida”.
O ato de desespero de Dimitri é um dos grandes vilões do endividamento. Parcelar gastos rotineiros, que precisam ser refeitos de tempos em tempos, como a compra de comida ou de remédios, é extremamente desaconselhável, já que fará com que a dívida do mês anterior se some com a do mês seguinte e torne-se impagável.
Infelizmente essa é a realidade de muitos. De acordo com a Fecomércio-ES, quase que dobrou o índice de pessoas, em Vitória, que declara não ter condições de pagar suas contas. Em maio do ano passado, 6,6% se diziam nessa situação, agora, são 11,7%.
O aposentado Nélio Vial se viu assim. Ele conta que precisa gastar entre R$ 300 e R$ 400 todos os meses com os seus remédios, os de sua esposa e o de seu filho, que é autista. “Meu orçamento é muito curto, se aparece um imprevisto, tenho que abrir mão ou parcelar algo. Há oito meses parcelei remédios e alimentação. Sem conseguir pagar as parcelas, minha dívida acumulou e chegou em R$ 3 mil. Os juros do cartão são muito altos, não dá para vacilar. Mas quando a necessidade aperta, não tem jeito”.
Esperança
O economista Mário Vasconcellos aponta que as famílias estão se endividando mais não por estarem consumindo mais, mas sim por estarem recebendo salários menores. Apesar disso, ele vê um segundo semestre, em 2016, com uma economia melhor, com inflação mais controlada, surgimento de novas vagas de emprego e aumento dos investimentos no país.
Ainda assim, Vasconcellos alerta que, além dos fatores econômicos, é preciso torcer para que o clima ajude. “A economia começa a mostrar sinais de recuperação. A redução no preço dos alimentos, entretanto, vai depender muito das condições climáticas. Se ela for boa agora, garantirá boas colheitas lá na frente”.
Fonte A Gazeta