Denúncia

Funcionários denunciam cárcere e jornadas abusivas na BYD de Camaçari: “Ficamos trancados como prisioneiros”

27/10/2025 - 21h34

Camaçari (BA) – Trabalhadores da fábrica da montadora chinesa BYD, instalada no Polo Industrial de Camaçari, denunciaram uma situação alarmante ocorrida na noite do dia 16 de outubro de 2025. Segundo relatos, funcionários foram trancados dentro do pátio da empresa após o fim do expediente, que se encerrava às 18h, e só puderam sair por volta das 20h40.

De acordo com os trabalhadores, os portões permaneceram fechados enquanto chefes pressionavam os empregados a fazer hora extra não programada, sob o argumento de “demanda de produção”. Além disso, não havia transporte disponível para o retorno para casa. Alguns funcionários relataram que precisaram juntar dinheiro para pagar uma carona até o centro da cidade.

“A gente terminou o turno e simplesmente os portões estavam trancados. Disseram que só abriria quando a produção terminasse. Ficamos mais de duas horas esperando, sem saber o que fazer”, relatou um dos operários, que preferiu não se identificar por medo de represálias.

Outra funcionária acrescentou: “Eles tratam a gente como máquina. Quem reclama é ameaçado de demissão. Já vi colega chorar por não aguentar mais esse tipo de abuso”.

A BYD, empresa apresentada pelo governo da Bahia e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “símbolo do progresso e da industrialização verde”, negou as acusações e afirmou, em nota, que o episódio foi resultado de um “problema logístico pontual” na liberação dos ônibus de transporte dos trabalhadores.

Entretanto, sindicalistas e ex-funcionários afirmam que essa não é a primeira denúncia envolvendo a montadora. Há relatos anteriores de jornadas exaustivas, pressão psicológica e até retenção de funcionários dentro das dependências da fábrica, o que caracterizaria condições análogas à escravidão.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) já teria recebido representações sobre a conduta da empresa e, segundo fontes, deve instaurar um novo inquérito para apurar as denúncias mais recentes.

“É inadmissível que uma empresa multinacional, beneficiada por incentivos fiscais e celebrada como modelo de desenvolvimento, pratique esse tipo de violação”, declarou um representante sindical da categoria metalúrgica.

A repercussão do caso levantou questionamentos sobre a real natureza da parceria entre o governo brasileiro e a empresa chinesa, especialmente no que diz respeito às condições de trabalho.

“Se essa é a ‘parceria’ com a China, parece mais uma parceria com a exploração trabalhista”, comentou um funcionário indignado nas redes sociais.

Enquanto as investigações não avançam, os trabalhadores da BYD de Camaçari continuam temendo novas represálias e esperam que as autoridades garantam o respeito aos direitos trabalhistas dentro da empresa.


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