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Índios mundurucus capturam três pesquisadores no rio Tapajós

23/06/2013 - 00h00

Três pesquisadores que coletavam informações para estudos ambientais para a construção de usinas hidrelétricas no rio Tapajós, na Amazônia, foram detidos por índios da etnia mundurucu em uma região próxima a Jacareacanga, cidade paraense na divisa com Amazonas e Mato Grosso.

Os mundurucu afirmaram, por meio de nota, que o grupo foi apreendido ilegalmente em terras indígenas ao coletar animais, plantas e amostras.

Os pesquisadores são da Concremat, contratada pelo Grupo de Estudo Tapajós, que estuda a construção das usinas São Luiz do Tapajós e Jatobá na bacia do rio.

O grupo classificou a ação como “sequestro” e afirmou em nota que “nenhum local visitado pelos pesquisadores é terra indígena”.

A Secretaria-Geral da Presidência ratificou as informações do Grupo de Estudo Tapajós –formado por empresas como Camargo Corrêa, GDF Suez e Eletrobras, entre outras– e afirmou que os índios “mentem sistematicamente”.

O ministro Gilberto Carvalho, que no começo do mês recebeu os mundurucus após a ocupação da usina Belo Monte por nove dias, informou que uma equipe de sete assessores será enviada ao Pará para negociar a liberação dos pesquisadores.

Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, a equipe é formada por técnicos da Funai (Fundação Nacional do Índio) que falam o idioma da etnia e pessoas que negociaram a saída dos mundurucus de Belo Monte.

AMEAÇA

O Grupo de Estudo Tapajós acusa os índios de “truculência” e afirma que foram roubados câmeras fotográficas e computadores com os registros da expedição.

“Nós deixamos claro para o governo federal que não iríamos deixar entrar nenhum pesquisador nos nossos territórios”, afirmaram os índios na nota. “Nós vamos liberar pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa postura.”

Os índios fizeram questão de dizer que não permitirão que novas expedições sejam realizadas. “Se o governo não suspender, nós daremos um jeito. Sugerimos aos pesquisadores que não entrem nas nossas terras. Estão todos avisados.”

GRUPO DE ESTUDO TAPAJÓS

A Eletrobras informa que, às 16h de ontem (21), os biólogos e pesquisadores Djalma Nóbrega (mastozoólogo), Luiz Peixoto (ictiólogo) e José Guimarães (ictiólogo), da empresa Concremat, foram sequestrados por índios da etnia Munduruku na localidade de Mamãe-Anã, no rio Tapajós. Eles estão sendo mantidos reféns na cidade de Jacareacanga neste momento.

Os biólogos estavam na região do Tapajós, próximo ao município de Jacareacanga, realizando estudos de fauna e flora para o licenciamento socioambiental do possível Aproveitamento Hidrelétrico de Jatobá. Tais estudos são uma exigência do Ibama, que concedeu a permissão e determinou as áreas em que deveriam ser coletadas amostras da fauna, flora e água. Nenhum local visitado pelos pesquisadores é terra indígena.

Além da truculência do sequestro, foram roubados câmeras fotográficas e computadores com os registros da expedição e também o material coletado pela equipe, comprometendo a qualidade dos estudos realizados e impedindo sua continuação. É importante ressaltar que tais estudos são benéficos para a sociedade brasileira, pois permitem que se conheça melhor a fauna e flora locais.

A Concremat está a serviço do Grupo de Estudos Tapajós, que é coordenado pela Eletrobras e reúne as empresas Eletrobras Eletronorte, GDF SUEZ, Endesa Brasil, Copel, EDF, Cemig, Neoenergia e Camargo Corrêa. A Eletrobras está trabalhando em parceria com o governo federal para resguardar a segurança de todos os envolvidos e espera que esses profissionais sejam libertados o mais rapidamente possível de forma pacífica.

MUNDURUCUS

Nós, Munduruku do rio Tapajós, apreendemos um grupo de pesquisadores que estava ilegalmente em nossa terra. Eles estavam coletando animais, plantas e amostras para a construção de barragens nas nossas aldeias. Nós apreenderemos tudo o que foi coletado por eles, todos os materiais, tudo o que foi retirado e anotado das terras indígenas.

Nós deixamos claro para o governo federal que não iríamos deixar entrar nenhum pesquisador nos nossos territórios.

Nós vamos liberar pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa postura por parte do governo federal e dos empreendedores que querem construir barragens.

Um avião búfalo do Exército/FAB pousou hoje em Jacareacanga. Esperamos que esses militares não tenham vindo para nos atacar, mas sim para defender o nosso direito pela nossa terra, a lei e a Constituição. Porque quem está errado é o governo. Nós estamos certos.

Exigimos que o governo suspenda todos os estudos e pesquisas relacionados às barragens nos rios Tapajós e Teles Pires. Nós sabemos que as pesquisas são o primeiro passo para viabilizar a construção das hidrelétricas. Nós não vamos deixar as pesquisas e estudos acontecerem. Se o governo não suspender, nós daremos um jeito. Sugerimos aos pesquisadores que não entrem nas nossas terras.

Fonte: Uol


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