Médicos dizem que bolsa mais forte que airbag salvou ‘bebê milagre’
A proteção da bolsa amniótica e a manutenção da temperatura foram os fatores principais para garantir a vida da menina Jenifer, que nasceu após a mãe, Ingrid Irene Ribeiro, morrer em um acidente de trânsito na Rodovia Régis Bittecourt (BR-116), em Cajati, no Vale do Ribeira, interior paulista. Médicos afirmam que o bebê não corre riscos futuros para se desenvolver.
Ingrid foi lançada para fora de um caminhão, carregado com tábuas de madeira, que tombou no Km 527. Ela estava de carona, em circunstâncias ainda não esclarecidas, e seguia para a capital paulista sem o conhecimento de familiares. O motorista do veículo ficou ferido e sobreviveu. A jovem morreu na queda, teve o abdomên rasgado, e o bebê foi encontrado nos destroços.
O médico socorrista Elton Fernando Barbosa explica que deparou-se com a criança após mover tábuas que caíram em cima do corpo da mãe. “Quando retiramos a última prancha é que conseguimos visualizar a vítima. Próximo ao abdômen da mãe, estava a criança, ainda ligada pelo cordão umbilical. Ela estava chorando já”, lembra.
Na avaliação do médico, alguma parte da lataria do caminhão fez um corte na barriga da jovem, possibilitando que o bebê fosse expulso do corpo da mãe. “Vale salientar que a abertura no abdômen dela não foi muito profunda, porque, senão, teria pego a criança. Por isso que, para mim, foi um milagre”, afirma Barbosa, que teve ajuda de dois colegas.
Para ele, dois fatores foram decisivos para a manutenção da vida de Jenifer. “O próprio corpo da mãe recebeu as madeiras, e criou um espaço entre o solo e o corpo, para que a criança pudesse ficar intacta, sem traumas. No dia, estava ensolarado, quente, e a madeira é um isolante térmico. Ela estava próxima à mãe, que ainda estava quente”, fala.
Ao analisar as circunstâncias e imagens do acidente, o médico especializado em ginecologia e obstetrícia, Gerson Aranha, responsável por mais de 8.200 partos no litoral paulista, concorda com o colega socorrista, e afirma que a proteção natural da bolsa amniótica e o calor do ambiente foram indispensáveis, fatores “preponderantes”, segundo ele.
“A bolsa [amniótica] tem alto grau de proteção, e é mais eficaz que o airbag de um veículo. Diante de todos os traumas que a mãe sofreu, foi isso que protegeu o bebê. E mais do que isso, foram as vísceras da mãe, cujo corpo permaneceu aquecido até a chegada do socorro, que mantiveram a temperatura da menina, afastando eventual hipotermia”.
Segundo Aranha, um recém-nascido demora, ao menos, uma hora para recuperar um grau de temperatura corporal perdido. “Por isso que encaminhamos logo para um berço aquecido, assim que eles nascem. Esse bebê estava para nascer, pois estava com 39 semanas, aproximadamente, e isso reduziu os eventuais riscos que poderiam ter se fosse prematuro”, explica.
O ginecologista e obstetra afirma, ainda, que o desenvolvimento de Jenifer não corre qualquer risco, apesar das circunstâncias traumáticas do nascimento. “Se, em 48 horas, não fosse identificada qualquer infecção, ela poderia seguir para casa. E foi o que aconteceu. E ela deve receber os cuidados da família da mesma maneira que qualquer outro recém-nascido”.
Jenifer recebeu alta médica na segunda-feira (30), depois que a família confirmou o grau de parentesco com Ingrid, que estava sem documentos no momento do acidente e ficou quatro dias sem identificação no Instituto Médico Legal (IML). A menina foi levada pelos avós maternos para a casa deles em São José dos Pinhais, no Paraná, onde a mãe também vivia.