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Obrigado Pelé, por Érico Cavalcanti

29/12/2022 - 22h43

Meus encontros com Pelé foram poucos, mas muito intensos. Mesmo estando sentado numa arquibancada do Maracanã, ele a dezenas de metros no gramado, a tensão era constante. Como tirar o olho dele e perder a magia de suas jogadas? Como perder, por desatenção, o que aquele ator poderia fazer com a bola a qualquer instante? Eu ficava com os olhos fixos na sua movimentação, só desviava o olhar em duas ocasiões, no gol e no final de cada tempo do jogo.

O Santos na minha época de rapaz, nos idos da década de 60, jogava muito no Maracanã, tanto é que o carioca acabou adotando o Santos como um time do Rio. Menos o carioca torcedor do Botafogo que tinha um timaço e vivia ganhando dos outros, talvez pra ir à forra o carioca que não era torcedor do Botafogo torcia pelo Santos. Na realidade torcia pelo Pelé.

Ele tornou-se o ídolo da minha geração. Me lembro da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, no jogo contra os portugueses, os jogadores de Portugal caçaram Pelé em campo até contundi-lo, acabaram com ele. Por causa disso, o bar do português Arnaldo, em Ipanema, foi destruído.

Como escreveu, muito bem, o Casagrande : “ Pelé inventou o futebol, essas jogadas de chapéu, bola entre as pernas do marcador, jogar à bola e pegar na frente, tabelinhas com as canelas adversárias, tudo isso ele inventou e os jogadores de hoje fazem porque viram nos filmes e vídeos “.
O tempo passou e ele continuou o seu reinado, mesmo depois de ter parado, o reinado eterno, o reinado próprio dos ídolos.

Fui morar em Salvador para gerenciar um projeto esportivo que o antigo Banco Econômico, patrocinava em todo o país. Eram as corridas infantis que desenvolvi no Rio de Janeiro. Fiquei amigo de um procurador do Pelé em Salvador, este me apresentou a um sócio do Pelé. Conversamos sobre a vontade que eu tinha de colocar esse projeto nos Estados Unidos. Fizemos um acordo e viramos sócios no projeto. Para minha surpresa, Pelé, através desse sócio, também se tornou um dos sócios. Marcamos uma reunião lá em Salvador e fui apresentado ao meu ídolo. Foi uma das grandes emoções que esse projeto me proporcionou. Arrumei naquele momento, um amigo do tipo que não precisamos conviver no dia a dia, mas que é eterno. Como escreveu Juca Kfouri em seu belíssimo texto de despedida dele : “generoso, humilde, fazia um presidente americano esperar, mas não o pessoal que trabalhava no hotel onde estava hospedado”.

Essa generosidade eu fui testemunha inúmeras vezes, quanto a humildade só ele me chamava de professor, apesar de ser também professor. Um dia disse a ele, Edson, não tenho nenhuma foto com você, ele respondeu, Professor você precisa? A hora que você quiser você pode estar comigo!

Meu ídolo não morreu. Parafraseando Guimarães Rosa, meu ídolo não morreu, ficou encantado. Obrigado Pelé!!

Por Érico Cavalcanti


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