com coragem
Parábola do dinheiro que sai dos cofres de uma prefeitura para a BR-101, passa por uma fazenda de cacau e vai para fora do país
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Há uma cidade. Se no extremo sul, não sei. Se na Bahia, talvez. Se é prefeito ou prefeita, também não sei. Mas o que fiquei sabendo é que o dinheiro destinado à realização de obras públicas nessa cidade — se é dinheiro de empréstimo, não sei; se é dinheiro federal, também não sei; se é emenda, tampouco sei — está fazendo uma verdadeira viagem para ganhar aparência de dinheiro limpo, conquistado honestamente. Para isso, o dinheiro deixa a cidade, percorre um determinado trecho da BR-101, passa por uma fazenda de cacau e, depois, literalmente, deixa o país, onde ganha legalidade.
Mas o que o famigerado dinheiro vai fazer na fazenda de cacau?
Bom, aí é o seguinte: pelo que chegou ao meu conhecimento, a fazenda de cacau pertence ao sogro do prefeito ou a pessoas ligadas a ele.
Nessa fazenda, há uma espécie de lavanderia— uma lavagem para tirar a sujeira do dinheiro, dar-lhe aspecto de dinheiro limpo — e, depois, esse dinheiro é enviado a um paraíso fiscal fora do país.
E aí você pode me perguntar: o que o dinheiro vai fazer fora do país, ainda mais em um paraíso fiscal?
É simples. Se o prefeito e seus asseclas começarem a exibir um patrimônio diferente ou um padrão de vida muito superior ao que sempre tiveram, todos vão perceber que estão se locupletando do dinheiro público.
A estratégia, então, é manter o dinheiro guardado fora do país até que o prefeito ou prefeita consiga fazê-lo retornar sem criar alarde ou chamar atenção.
Para aguçar ainda mais a sua curiosidade, vou lhe dar algumas dicas sobre o dono do suposto dinheiro.
Primeira dica: a cidade recebeu um grande volume de obras. Não sei se foram recursos federais, emendas parlamentares ou empréstimos tomados com a anuência da Câmara Municipal.
Por trás das empresas que realizam essas obras, há uma espécie de “ratos forasteiros”, como diria um ex-presidente da Câmara Municipal de uma cidade do extremo sul da Bahia.
O que fiquei sabendo é que o volume de dinheiro é muito grande, que a máquina de lavar usada para “limpar” esse dinheiro também é grande e que toda a grande família está envolvida na viagem, lavagem e exportação do montante.
Vou dar outra dica: o prefeito ou a prefeita — ou os dois ao mesmo tempo — foram reeleitos. Na verdade, um foi reeleito, mas a outra foi reeleita junto, sem precisar se candidatar.
Ah, essa história vai ter sequência, mas, por ora, vou preservar os nomes do prefeito, da prefeita ou de ambos, assim como a fonte da lavagem do dinheiro.
Eu volto.
Jotta Mendes é radialista, jornalista e escritor.