Tortura

Seguranças amordaçam, chicoteiam e filmam adolescente por furto de chocolate

04/09/2019 - 08h57Por: Bell Kojima

Um crime de tortura contra um adolescente de 17 anos está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo (PCSP). Ele foi detido em um supermercado por dois seguranças, que o amordaçaram nu e agrediram usando um chicote feito com fios elétricos. Um inquérito foi instaurado na segunda-feira, 2 de setembro.

A cena foi gravada e o vídeo foi divulgado em redes sociais. Morador de rua e dependente químico, o adolescente é conhecido na região do mercado, na Vila Joaniza, e costuma circular juntando latas e pedindo ajuda e comida. O delegado do caso, Pedro Luiz de Souza, o conhece.

O vídeo mostra o rapaz nu, com uma mordaça na boca, dentro de uma sala. Ele chora enquanto recebe chicotadas.

Um dos agressores afirma que aquilo está acontece “para não ter de te matar“.

O adolescente tentou pegar quatro barras de chocolate e os seguranças resolveram “dar um castigo” nele. São cerca de 40 minutos de surra.

Fui pegar o chocolate, aí eles me pegaram, me levaram ali no quartinho, me deram uma ‘pá’ de chicotada. Aí ele falou que, se eu falar para alguém, ele ainda vai me matar“, diz o rapaz à TV Globo.

Quero justiça contra isso. Eles fizeram maldade. Quero pôr eles dentro das grades.

O delegado afirmou que o adolescente é “totalmente inofensivo” e que os seguranças fizeram “uma barbaridade” com ele.

É uma barbaridade. Um ato covarde de tamanha brutalidade contra um garoto, indefeso, nu. O que esse garoto pode ter pego lá (no mercado) que pudesse resultar nisso? Nada justifica“, diz.

O adolescente contou que não se lembra do dia em que o fato ocorreu, mas conseguiu identificar os dois agressores pelo sobrenome.

O supermercado Ricoy informou que afastou os dois seguranças e que é contra esse tipo de comportamento. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) diz que os dois foram identificados com ajuda de câmeras de segurança e devem ser ouvidos em breve.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) de São Paulo divulgou nota repudiando o episódio. Em nota, o órgão defendeu a apuração com rigor dos fatos e a adoção das providências legais cabíveis.

A SMDHC lamenta a ocorrência de todos os fatos que ferem a dignidade humana e demonstram a intolerância da nossa sociedade com pessoas que deveriam receber atendimento civilizatório e adequado“, diz o texto.

De acordo com a lei, o crime de tortura é considerado hediondo e ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental. A legislação prevê pena de 2 a 8 anos para esse crime.

Edição: Bell Kojima


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