19 de junho: Teixeira mostrou que tem voz e fez valer sua vez
A onda de protestos chegou como marola aqui em Teixeira de Freitas, não por não ser intensa com nos demais lugares em que ocorreu, mas, se comparado o termo “onda” usado pelas mídias manipuladoras para manchar a imagem dos manifestantes, tomando-os por arruaceiros, ‘sem-que-fazer’, instigadores da violência urbana. Se compararmos o teixeirense com os manifestantes do Brasil afora – ao menos os que estampam as páginas polícias dos principais jornais impressos, online, televisivos – teremos aqui no Extremo Sul o exemplo de cidadão atuante que este país precisa.
No dia 19 de junho, incrédulos da força, organização e capacidade de liderança de nossa Teixeira (confesso que faço parte do grupo!) puderam ficar boquiabertos, como essa colunista aqui, ao ouvir em todo lugar que o movimento foi, deveras, pacífico, e lindo, a mais bela manifestação da democracia já vista na história dessa cidade. Nunca me senti tão bem em errar como neste dia 20 de junho, ao saber o sucesso alcançado na noite anterior. Aos que me perguntavam pelo Facebook se eu iria, respondi “Não. Temo que seja apenas um espaço para políticos e grupinhos outros exibirem suas bandeiras. E preciso cuidar de minha Princesa (cadelinha que amo como filha acometida por doença hepática há quase 3 meses)”, mas, complementava: “Vá. Posso e quero estar enganada. Tem muita gente boa trabalhando para que dê certo”.
Realmente, aos organizadores, meus parabéns. Aos estudantes, trabalhadores, trabalhadores estudantes, donas de casa, mães que levaram filhos, filhos que contagiaram famílias inteiras a deixar a novela de lado e lutar por uma realidade melhor, meus parabéns. A você empresário, Ordem dos Advogados do Brasil/subseção Teixeira de Freitas, pais, avós, todos, parabéns mesmo. E aos amigos vereadores que lá estiveram tentando participar – se o desejo de vocês era exercer a cidadania, como alguns esbravejaram pela Rede Social chateadinhos por não terem podido participar do movimento, saibam que durante 4 anos vocês têm a chance não só de exercer cidadania, como de melhorar a qualidade de vida dos teixeirenses.
O movimento era do povo. Concordo que vocês também são cidadãos, no entanto, acho que o bom senso devesse os fazer entender que tudo que as pessoas não queriam ver por perto no momento eram políticos, afinal, a luta era, também, contra a corrupção, e não há roubo maior aos brasileiros que os salários dos políticos. Engraçado que um teixeirense ligou para um programa de rádio, quando estavam alguns vereadores lá, e perguntou ao vivo, se eles topariam receber um salário-mínimo/mês. Teve um edil cara de pau, sem noção, no mínimo, tadinho, que disse ‘que vereador ganha é pouco’.
Ele deve ter feito uma piadinha. Não quero acreditar que nossos nobres edis, exímios artesãos do nada, achem pouco R$ 10 mil por mês. Como não entender a revolta dos presentes no manifesto ao verem se aproximar do carro de som, vereador, assessor e todo pacote ‘come-dinheiro-público’?! Óbvio que eles são quem mais precisa ouvir o grito de necessidade que vem das ruas, só que existem outras oportunidades. Aquela noite de 19 de junho não cabia, porque vereador que não legisla, não fiscaliza, não trabalha para o povo não merecia estar ali, no ápice de uma democracia, que é o governo do povo. Político algum, na verdade, tinha o direito de se misturar com as pessoas de bem cansadas da inércia, sedentas por caminhar, marchar em frente e mostrar que o Brasil é, de fato, uma pátria amada, com filhos fortes, que lutam até a morte por um futuro melhor, para dar o direito aos seus filhos de dormirem em berços esplendidos.
Teixeira fez o Brasil entender que não é por 0,20 centavos, isso foi apenas a motivação do início das manifestações que tomaram o país, sendo que “treze dias depois, já com a adesão dos protestos em pelo menos 12 Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e outras seis capitais reduziram as tarifas. As reduções foram anunciadas no dia 19, quando os protestos já reuniam 215 mil pessoas em todo o país.” (trecho de matéria extraído da Folha de S. Paulo online em 23/6/2013). Ou seja, surtiu efeito. A força de uma Nação foi maior que os desmandos de uma política nojenta, que implanta a desesperança a cada eleição.
Nossa cidade levou cartazes inteligentes, que demonstravam que até as ‘Maria vai com as outras’ foram assessoradas por quem sabia as causas da luta. Além do mais, os que não sabiam, ajudaram a dar volume. Eu temia que atrapalhassem o uníssono grito de democracia, mas, isso não ocorreu. Os desinformados souberam repetir como papagaios o que os brasileiros de verdade exigiam com vozes, pinturas, cartazes, máscaras, apitos e um coração verde-amarelo, que não quer mais ter estas cores apenas em copas do mundo, quer vestir-se ainda de azul e branco a cada amanhecer e mostrar que é muito mais que bunda, samba e futebol.
Lamento somente por mentes alienadas, incapazes de ver a grandeza do movimento, escreverem coisas que o minimizam a redução de tarifa de ônibus. O verdadeiro cidadão sabe que a luta é por respeito, cidadania, saúde, educação, fim da corrupção, penas mais rígidas aos políticos corruptos, não aprovação da PEC-37, entre outras necessidades básicas da Nação Brasileira. Fico triste ainda com veículos de comunicação de nossa cidade que não deram o lugar de destaque merecido ao dia 19 de junho, o ápice de Teixeira de Freitas, quando vimos e entendemos que se podemos nos agigantar por causas tão amplas, podemos nos unir por questões mais próximas, problemas políticos locais. E isso eu espero ver. Fiquei sabendo que o próximo será na Câmara, onde poderemos ver o edil que acha pouco R$ 10 mil dizer isso aos cidadãos. Se o do dia 19 foi #VempraRua, este será, #VempraCâmara. Desta vez, o meu Hashtag (#) estará lá também.
Escrevi demais! Perdoem-me. É porque a emoção tomou conta de meus dedos e falou mais alto. Até domingo, se Deus quiser.
Carla Félix é formada em Letras Vernáculas pela Uneb/Campus x. Revisora, redatora e editorialista; atua em jornal e sites de notícias da cidade.