Cleptocracia

Do reino da impunidade à cleptocracia

15/12/2022 - 22h06

É um desafio entender e descrever o maior REINO DA IMPUNIDADE SOBRE A TERRA, situado abaixo do Equador, com todas as suas peculiaridades, principalmente, logo após a festa das urnas invioláveis.

Vamos fazer um esforço para capturar e descrever as características do reino feudal democrático, fazendo uma fotografia do momento.

O reino é verdadeiramente feudal, porque lotearam as terras e as fontes de renda do reino. No reino da impunidade o feudo e fé se misturam na vida política.

O reino é democrático porque regularmente “fazem eleições formais” com sigilo do voto, mediante urnas invioláveis e voto “auditável”.

Tudo conforme o figurino da ficção.

O reino democrático da impunidade é uma peça de ficção e tem seu início por volta de 1985 com o fim dos Governos Militares.

Aos poucos o reino da impunidade foi criando uma nova constituição e toda legislação infraconstitucional para adequar todo o sistema político, social e econômico ao novo regime.

E deram-lhe o nome de “Nova República”. Era uma esperança para todos os súditos, mas se tornou um paraíso para os ladrões.

Até nas obras cinematográficas os ladrões e assaltantes perigosos fogem para o reino, pois lá é a terra da impunidade. Nada de punir infratores.

Nada de condenar.

No reino da impunidade fica constatado que é a Divina Comédia ao contrário.

Os ladrões estão no paraíso e suas vítimas ficam no inferno. Os contribuintes ficam no

“Purgatório Tributário” para custear a festa dos descondenados, realizada a cada quatro anos.

Ultimamente, notamos que a festa democrática do reino está sob a tutela do arbítrio, gerando censura e medo de opinar.

É um momento estranho à luz das mentes mais brilhantes do Direito Constitucional.

É notório ,também, o fato de que há um silencio ensurdecedor diante dos recorrentes abusos perante as regras do processo acusatório dentro da monarquia.

Ninguém fala nada. O medo se instalou de forma difusa no reino. Publicar opinião contrária passou a ser crime.

Os sucessivos atropelos constitucionais promovem o vilipendio à carta magna e coopera, de certa forma, para a eleição dos acólitos da seita e os membros das velhas quadrilhas palacianas do reino.

Todavia, os novos assentados apontados pelas urnas já estão ajustando os feudos e as glebas aos seus interesses pessoais sem a preocupação de promoverem novos crimes em velhas cenas.

Assentados com fichas limpas e almas sujas foram legitimados e contemplados com benefícios do Reino Feudal Democrático.

Embora tenhamos uma disputa acirrada entre os postulantes aos cargos do reino da impunidade, podemos afirmar que o privilégio maior entre os assentados é calar as vozes discordantes dos jornalistas e oposicionistas.

Esses são caçados e presos pela guarda monárquica.

No reino da impunidade não há ladrões entre os postulantes e nem entre os assentados.

Acredite! Todos os crimes foram perdoados e cancelados.

Parece uma obra salvífica de um detergente judicial que limpa tudo.

Pois, tudo foi perfeitamente revisto e ganhou a classificação de normalidade com honras.

A normalidade máxima é a impunidade máxima.

Na velocidade máxima.

Nada escapa ao escrutínio do Reino da Impunidade programada.

Todos foram salvos das condenações e retornam à cena do crime com as fraldas geriátricas sujas, mas com as fichas limpas.

É incrível! É fantástico! A festa da democracia feudal entra numa nova fase.

A fase do assentamento dos vencedores da Seita. Os vencedores, apoiados pelos donos do poder, assumem uma parcela relevante da Monarquia Absolutista , mas com o verniz americano de democracia dos privilégios dos trópicos.

É um reino descomunal de orgias e desmandos, onde os tributos cobrados dos súditos são incinerados pelo fogo do gasto público.

No reino da impunidade há uma luta pelo despojo da guerra política. Palácios, apartamentos, empresas estatais, cargos e verbas são disputadas com intensa voracidade.

A hora boa é a de repartir o despojo. É a hora em que o despojo ficará com o vencedor das eleições.

Os cargos e assentos abundantes das estatais são loteados e compartilhados. Cada assentado

tem direito às nomeações de vários cargos em diversas empresas estatais.

Nesse momento, a ideologia se resumirá em notas de reais tão logo os feudos sejam repartidos entre os novos eleitos.

As negociações se iniciam e os mercadores vendem as vagas em estatais para os vivaldinos do povo.

Agora já não existe orçamento secreto. Chame-as de emendas do relator.

Emendas do dinheiro dos contribuintes.

Os malandros novos não são mais malandros do que os malandros velhos.

Eles são muitos e exigem novos ministérios.

Os neófitos espertos forçam a expansão dos feudos.

Abram-se novos ministérios! Assim como resultados das urnas foram inflacionados, as despesas públicas seguirão o mesmo ritmo inflacionário…

O mercado já notou e reagiu…

A bem da verdade, os custos do reino da impunidade são altos, mas são socializados com milhões de contribuintes em forma de carga tributária.

Uma característica sintomática do reino da impunidade é alta carga tributária.

As altas cargas tributárias sinalizam um Estado Monárquico grande e caro.

Estado que gera pobreza e eleitores dependentes.

Os custos sociais de uma economia doente são tão altos que o círculo vicioso da pobreza não cessa.

Fato é que alguém precisa pagar a conta dos assentados vencedores.

No reino da impunidade, a máquina fantasiada de urna eletrônica carrega segredos e votos que não podem ser auditados.

Ela é peça fundamental para legitimar os assentados. Toda obra de ficção precisa de alguns instrumentos tecnológicos.

Sem ela a ficção perde a graça e a aventura a cada quatro anos.

Ela é tão importante quanto o protagonista que aperta a tecla ”confirma”.

Normalmente, no reino da impunidade, os novos assentados carregam descondenações que foram avaliadas na balança da Justiça.

Ninguém é ladrão entre os assentados. A impunidade é direito de todos e a urna legitima tal direito.

Basta apertar a tecla “confirma”. A tecla “confirma” significa que o povo democraticamente legitimou os esquemas de drenagem de recursos públicos.

Então, após a legitimação, o reino dos assentados e dos malandros reinicia sua trajetória com vestes lavadas e engomadas pela justiça dos amigos e afiliados da Seita.

Tudo se inicia na urna…

Uma outra característica marcante do reino é que não há nenhum constrangimento da parte da Liga da Justiça ao lavar a ficha imunda de muitos malandros e assentados que ressurgiram das urnas.

Diante de tantos desmandos e vilipêndios ao texto sagrado constitucional, o reino padece de falta de memória ao pactuar cegamente com quem lhe assalta. É normal classificar de correto o que é incorreto e detestável.

Entretanto, o absurdo é a amnésia das vítimas que deleta da memória a distinção entre o bem e o mal…

No reino da impunidade há justificativas para todo o tipo de crime. Não importa o valor do objeto roubado ou a quantia extraída dos cofres públicos.

Descobriu-se que o equilíbrio e a paz está no rouba, mas faz.

Assim fica tudo em paz. É assim no reino.

Toda a forma de crime é perdoada.

A impunidade líquida e certa permite a construção de uma ponte segura entre o crime e a liberdade suprema.

Nessa ponte segura, o pedágio é pago com indicações aos cargos mais poderosos do Reino dos Malandros. Não há maior herói dos malandros do que o famoso Robin Wood.

Note, caro leitor, que diante de tantas características, o Reino dos Malandros sofre de uma epidemia de impunidade programada – ajustada e reconfigurada – justamente para criar e manter a CLEPTOCRACIA.

A cleptocracia não morre. Ela não é investigada, nem condenada. Ela é decorrente do Reino da Impunidade.

De forma conclusiva, podemos perceber que o reino da impunidade preparou, por longos anos, toda a legislação para conduzir o reino da impunidade para um regime cleptocrático difuso ,mas bem estruturado organicamente, a fim de garantir a sua persistência histórica mesmo sob as ameaças de “golpe dos oposicionistas”.

Não se trata da verdade e nem de fatos o que aqui foram descritos?

Claro que não! Tudo é uma obra de ficção. Não é verdade?

Por João Carlos Vieira da Silva


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