Líderes mundiais criticam o veto de Trump à entrada de refugiados nos EUA
Não se passaram nem 24 horas desde que dezenas de refugiados e imigrantes viram vetada sua entrada em território norte-americano por ordem executiva do presidente Donald Trump, e os líderes europeus já se pronunciaram contrariamente.
Trata-se da primeira vez que os grandes chefes de Governo de alguns países da UE (União Europeia) unem suas vozes contra o presidente norte-americano e criticam uma de suas medidas mais polêmicas, que recusa a entrada nos Estados Unidos não só de líbios, somalis, sudaneses, iraquianos, iranianos, iemenitas e sírios, mas também daqueles cidadãos que apresentarem dupla nacionalidade caso uma delas pertença a algum país da lista.
Se no sábado foi o presidente francês, François Hollande, quem pediu por uma “resposta firme” e unida contra Trump, neste domingo, foram a chanceler alemã, Angela Merkel, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, que criticaram a última medida do polêmico presidente dos Estados Unidos.
“A luta contra o terrorismo não justifica colocar sob suspeita generalizada pessoas de uma religião ou com um passado específico”, disse o porta-voz de Merkel.
Já o Governo britânico, manterá conversas com a Administração de Trump para tratar do assunto. Entretanto, Trump voltou a causar polêmica nas redes sociais ao defender sua medida e insistir que a Europa vive uma situação de “bagunça terrível“, ao se referir aos países que recebem refugiados.
Our country needs strong borders and extreme vetting, NOW. Look what is happening all over Europe and, indeed, the world – a horrible mess!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 29 de janeiro de 2017
Reino Unido
Depois de encenar o vigor da relação especial, na sexta-feira, em Washington, quando May se tornou a primeira dirigente estrangeira recebida na Casa Branca de Trump, a primeira-ministra britânica pediu a seus ministros do Exterior e do Interior, neste domingo, que entrem em contato com seus homólogos no Governo norte-americano para transmitir a eles suas queixas pelo decreto do presidente, que veta a entrada nos Estados Unidos de pessoas de sete países muçulmanos.
Segundo a BBC, as conversas entre os ministros devem se concentrar em proteger os direitos de cidadãos britânicos que possam se ver atingidos pela medida.
Pelo menos duas figuras públicas do Reino Unido se disseram afetados pela proibição de Trump. O deputado conservador Nadhim Zahawi, nascido no Iraque, afirmou que não poderá viajar para os Estados Unidos enquanto o veto estiver de pé.
“A rainha me condecorou como cavaleiro e Trump me transformou em um alienígena”, declarou em um comunicado o corredor e medalhista olímpico britânico Mo Farah, que nasceu na Somália e mora nos Estados Unidos.
O próprio ministro do Exterior, Boris Johnson, se adiantou à primeira-ministra e declarou, através de sua conta no Twitter, que “estigmatizar por motivos de nacionalidade” é “divisório e equivocado”.
We will protect the rights and freedoms of UK nationals home and abroad. Divisive and wrong to stigmatise because of nationality
— Boris Johnson (@BorisJohnson) 29 de janeiro de 2017
“Defenderemos os direitos e liberdades dos cidadãos britânicos em casa e no exterior”, acrescentou.
Em sua saída da União Europeia, Theresa May estabeleceu como prioridade uma boa relação com os Estados Unidos. Mas como demonstra o ocorrido neste domingo, a polêmica agenda do presidente ameaça obrigar May a um delicadíssimo equilíbrio se quiser continuar contando com os Estados Unidos de Trump como seu principal aliado no caminho do Reino Unido rumo a seu novo lugar no mundo.
Alemanha
“A chanceler [alemã] está convencida de que a luta decidida contra o terrorismo não justifica colocar sob suspeita generalizada pessoas de determinada religião ou com um passado específico”, declarou Steffen Seiber, porta-voz de Angela Merkel, ao jornal alemão Der Spiegel.
Segundo o mesma porta-voz citado pela Reuters, a chanceler recordou a Trump durante sua ligação telefônica no sábado que é necessário cumprir com a Convenção de Genebra de 1959, pela qual se estabelece a obrigação de dar refúgio a pessoas perseguidas por conflitos e guerras, entre outras questões.
O governo alemão “agora deve analisar as consequências dessas medidas para cidadãos alemães com dupla nacionalidade”, acrescentou o porta-voz.
Segundo o diário norte-americano The Wall Street Journal, o veto do Governo Trump também atinge aqueles que possuam dois passaportes e que um deles seja de um dos sete países vetados.
Justamente com a Suécia, a Alemanha foi um dos países que mais acolheram refugiados sírios, iraquianos e afegãos em 2015. Só o Governo de Merkel processou cerca de 800.000 pedidos de asilo, segundo o ACNUR (Alto Commissariado da ONU para Refugiados).
França
O presidente francês, François Hollande, já disse durante uma entrevista coletiva após a cúpula de países do sul da Europa, em Lisboa, no sábado, que a UE “deve responder com união” aos decretos do magnata norte-americano.
Áustria
O ministro do Exterior da Áustria, Sebastian Kurz, criticou, neste domingo, o fato de os Estados Unidos tenha imposto uma proibição de entrada a cidadãos de sete países de maioria muçulmana, informa a Efe.
“O justificado compromisso contra o terrorismo e o islamismo não pode levar a que se coloque sob suspeita generalizada toda uma comunidade religiosa e Estados inteiros”, afirmou o chefe da diplomacia austríaca, conservador, à agência APA.
Entre 30.000 e 35.000 austríacos são de origem iraniana, e acredita-se que praticamente todos conservem também essa nacionalidade. Por isso, potencialmente não poderiam entrar nos Estados Unidos, já que esse novo veto também afeta aqueles que tenham dupla nacionalidade.
Irlanda
O ministro do Exterior da Irlanda, Charlie Flanagan, advertiu de que a política de Trump “pode ter consequências a longo prazo, tanto no âmbito humanitário como para as relações entre os Estados Unidos e a comunidade muçulmana mundial”.
Suíça
Na Suíça, país que guarda fortemente suas fronteiras no centro da Europa, o ministro do Exterior, Didier Burkhalter, declarou que a decisão de Trump “vai na contramão”, pois as medidas antiterroristas “devem respeitar os direitos fundamentais, assim como o direito internacional”, e criticou “a discriminação de seres humanos em razão de sua religião ou país de origem”.
Canadá
O Governo do Canadá, vizinho dos Estados Unidos ao norte, utilizando o Twitter como meio de comunicação – assim como Donald Trump – disse, nas palavras do próprio primeiro-ministro Justin Trudeau:
To those fleeing persecution, terror & war, Canadians will welcome you, regardless of your faith. Diversity is our strength #WelcomeToCanada
— Justin Trudeau (@JustinTrudeau) 28 de janeiro de 2017
“Àqueles que fogem da perseguição, do terror e da guerra, os canadenses dão as boas-vindas, seja qual for sua religião. A diversidade é nossa força”, arrematou.
Além disso, Trudeau tranquilizou seus habitantes mediante um comunicado obtido pela BBC, no qual afirma que os cidadãos canadenses, inclusive os de dupla nacionalidade, estão isentos do veto de Washington.
EUA
A democrata Hillary Clinton quis deixar claro, também no Twitter, que “Isso [em referência ao veto] não reflete quem somos nós [os norte-americanos]”.
I stand with the people gathered across the country tonight defending our values & our Constitution. This is not who we are.
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) 29 de janeiro de 2017
Organizações internacionais
Várias ONGs e organizações internacionais, como a Cruz Vermelha, a Anistia Internacional, o Human Rights Watch, o Conselho Norueguês para Refugiados e a OIM (Organização Internacional para as Migrações), manifestaram sua preocupação a respeito e taxaram a medida de “danosa” e “desoladora”. Além disso, segundo a Anistia Internacional, o veto trará “consequências catastróficas”.
Liga Árabe
Os países da Liga Árabe se declararam “muito preocupados” pela proibição de Trump, segundo um comunicado da organização citado pela AFP. Além disso, ainda de acordo com a AFP, os Governos do Irã e do Iraque declararam que atuarão “segundo o princípio da reciprocidade” contra os cidadãos norte-americanos que pretendam entrar em seus territórios.
Trump insiste em polêmica no Twitter
Em resposta a essas críticas, Trump defendeu sua decisão, que ele baseia na necessidade de defender os EUA do terrorismo jihadista, ao declarar que o país precisa de “fronteiras sólidas”, e voltou a criticar a situação da imigração na Europa e no resto do mundo.
“Nosso país precisa de fronteiras sólidas e de um escrutínio extremo, AGORA. Vejam o que está acontecendo na Europa inteira e, certamente, no mundo – uma terrível bagunça!”, afirmou ele, em sua conta no Twitter.