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Orientado por Lula, PT ajusta discurso e aposta em PIB sob Bolsonaro

25/11/2019 - 13h12Por: Bell Kojima

Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula

A perspectiva de algum crescimento econômico a partir de 2020 fez o PT ajustar o discurso crítico ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A legenda agora concede que vem aí uma retomada, ainda que modesta, mas passou a centrar fogo na qualidade dos empregos gerados e na aposta de que a melhora do ambiente econômico será sentida por apenas uma parcela da população, o que deve contribuir para o aumento da desigualdade social.

Como sempre ocorre no partido, a senha foi dada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda de dentro da prisão. Mais do que a crítica à operação “Lava Jato” e à pauta conservadora do governo, a prioridade da sigla será a questão econômica.

Ao deixar a prisão, no último dia 8, após 580 dias preso, o ex-presidente bateu duro na situação econômica, sobretudo nos empregos precários que vêm sendo gerados, simbolizados na imagem de entregadores de pizza que trabalham para aplicativos.

Também falou sobre a entrega do patrimônio público brasileiro pelo governo.

Pode haver algum crescimento, mas seu efeito não chega à porta da casa do trabalhador. Vai ser muito concentrado numa determinada faixa da população, mais favorecida“, diz o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), que disputou a eleição presidencial de 2018 contra Bolsonaro.

Em documento econômico lançado em agosto, quando a retomada ainda era menos comentada por analistas, o PT já esboçava um discurso nessa linha.

Ainda que a atual equipe econômica possa produzir melhoras pontuais nas expectativas empresariais e alguma recuperação episódica, não será capaz de construir um ciclo sustentável de investimentos e um novo modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo“, diz trecho do Plano Emergencial de Recuperação de Emprego e Renda, lançado pelo diretório nacional petista.

As previsões de analistas são de que o crescimento do PIB em 2020 fique de 2% a 2,5%, puxado pelas taxas de juros em seu piso histórico. Juros baixos tendem a favorecer o consumo e a desestimular que o dinheiro seja aplicado em investimentos.

Isso não se reflete imediatamente no nível de pessoas ocupadas, contudo, e o próprio Bolsonaro foi comedido ao estabelecer uma meta para esse ponto até o final de seu mandato. Disse que quer chegar a 2022 com menos de 10 milhões de desempregados no país (são atualmente 12,8 milhões).

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirma que o eventual crescimento previsto para 2020 não será sustentável.

O Brasil pode até viver um processo de crescimento, mas será de estilo voo de galinha.

Os empregos que estão sendo criados são extremamente precários. Têm baixa remuneração e quase nenhum direito. Isso termina não trazendo o sentimento de melhora para população“, diz o senador.

A aposta do partido é que o componente nacional será forte na eleição municipal de 2020, polarizada nas figuras de Bolsonaro e Lula.

Nesse cenário, a situação econômica acabará se impondo como o tema principal da campanha.

Outro ponto a ser abordado pelos petistas é rotular a agenda do ministro Paulo Guedes (Economia), de ultraliberal e vinculá-la a um processo de destruição do setor público e vassalagem aos interesses americanos.

Embora pareça um discurso um tanto embolorado, pode ter apelo num momento em que Bolsonaro se alia fortemente ao presidente americano, Donald Trump.

É hora de deixar claro que isso aqui está virando um quintal dos EUA“, afirma Fernando Haddad.

O documento econômico que foi lançado em agosto trata do tema.

As reformas ultraliberalizantes e a ortodoxia fiscal da gestão Guedes-Bolsonaro estão desmontando e comprometendo estruturas fundamentais para o desenvolvimento da indústria e da economia brasileira“, diz o texto.

O texto cita como exemplos desse suposto desmonte a ameaça de privatização de bancos públicos, a aprovação do acordo entre Embraer e Boeing e o abandono de instrumentos de defesa comercial, entre outros pontos.

Para o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (SP), “a política econômica de Bolsonaro é simbolizada pela meta de corte do desemprego“, que ele chama de “pífia“.

Um governo que estabelece como meta terminar o governo com 10 milhões de desempregados não tem credibilidade“, declara.

Previram crescer 2,5% este ano e não vão conseguir. Agora estão jogando para o ano que vem“, diz Padilha.

A previsão de analistas, registrada na última edição do boletim Focus, do Banco Central, é de crescimento de 0,92% para 2019.

Segundo o ex-ministro, o PT vai se concentrar nos próximos meses nos temas do emprego e do sofrimento das pessoas, além de insistir na falta de preparo da equipe econômica.

O Guedes a cada dia vem com uma coisa nova, e o Bolsonaro muda todas as medidas que ele apresenta“, diz.

Edição: Bell Kojima


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