Carla
félix

Marcha das Vadias X JMJ: Chico não merece. Isso não nos representa

28/07/2013 - 19h09
Carla Félix Entrelinhas - banner central

Fiquei muito triste ao ver a matéria sobre, como bem disse o William Bonner, um grupo de manifestantes formado por 2 mil pessoas realizou um protesto no Rio de Janeiro que se autointitulou de “A Marcha das Vadias”. Como sempre falei, gosto do jornalismo da Rede Globo por sua inteligência e qualidade, ao usar o termo autointitulou eles deixam espaço para que organizadores da Marcha das Vadias se pronunciem e deixem claro para o país que a intolerância não faz parte da política de protestos do grupo, que luta pela liberdade e fim da violência contra a mulher.

Ao nascer, fui batizada logo cedo, como manda a Igreja Católica, entretanto, seguir aos ritos desta religião para meus pais ficou somente nisto. Tendo eu sido criada num lar CRISTÃO, sem qualquer ligação com Religião A ou B. Talvez, por ser de uma família com raízes religiosas mistas, eu sempre fui tolerante, respeitosa com as diferenças. Meu avó materno era pai de santo, inclusive, cedeu seu terreiro ‘aposentado’ em um antigo salão para meus pais morarem de início, já que sua rigidez o fez dar seis meses para meus pais casarem assim que eles informaram o namoro. Sua esposa, de certo, seguia o marido, mas, ele morreu com minha mãe grávida de 3 meses e, infelizmente, não o conheci. Sei apenas que era querido e muito educado. Na casa de minha avó imagens de padres e santos me dizem que ela era, na verdade, católica. Os genitores de meu pai até hoje são católicos, de vê missa o dia inteiro na Canção Nova. E eu, nesta mesclagem, visitei a Igreja Católica umas duas vezes, mas, confesso, desde cedo fui muito crítica e não gostava de ver as meninas de minha idade (11, 12 anos) se ‘pegando’ com os rapazotes nos muros da igreja em que visitava. Por não saber separar as coisas ainda, decidi não ir mais. Meus pais sempre acataram minhas decisões, desde que embasadas.

Como tudo no começo para uma família que tenta a sorte em outra cidade é difícil, para nós não foi diferente. A escassez de mantimentos e trabalho, a precariedade da casa em construção na década de 90, quando viemos de Itororó/BA para Teixeira de Freitas, fez meus pais se desviarem de tudo que pregavam para mim até então, e começaram a se enveredar no alcoolismo, ainda que brandamente, tinha sequelas para uma criança. As constantes brigas e sofrimentos me fizeram ir a uma igreja evangélica por conta própria, e, desde então, é no Protestantismo que me identifico. Mas, é óbvio, a imaturidade e a criticidade excessiva me fizeram sair diversas vezes, trocar de igrejas, até que entendi que em qualquer religião haverá falhas, porque a IGREJA é uma instituição formada e gerida por pessoas, e onde há pessoas há divergência de ideias. Além do mais, a Bíblia, a base de quase todas as religiões, é um livro, passível de interpretações, e muitas, por vezes, são deturpadas ao bel-prazer do grupo líder, quase sempre objetiva-se alienar os fieis. Jamais critiquei o Catolicismo, o Umbandismo, Candomblé, Espiritismo, Protestantismo. Pratico o princípio maior deixado por Deus: amai-vos uns aos outros. Ao menos, eu tento. Embora, nem sempre seja possível amar, ao menos eu respeito; e penso que isso seja a chave para resolver tantas brigas religiosas e evitar tantas outras. Ao menos deu certo, claro, que não foi a religião. Com o tempo, meus pais superaram os problemas, se firmaram, pararam de beber, creio que um processo natural para a eles, tendo em vista a formação dos dois. Hoje, inclusive, seguem a mesma religião que eu, sempre com aquela ‘orelha’ em pé a cada interpretação, algo comum a nós.

Como eu, que tenho uma origem mista no que tange a religião, o Brasil é assim por natureza, por isso, não entendo o porquê de tanta discussão e briga por questões de cunho religioso. Cada uma tem sua beleza e feiura, sua particularidade, com pessoas que tornam seu propósito sombrio ou de luz. Tudo na vida possui dois lados, nenhuma religião é pura e santa, embora, está na Bíblia, que a santidade pode ser alcançada por todos nós e que nosso corpo pode ser um templo de Deus. Ah! Existe tanta imundície em cada ser, que tenho certeza que Jesus não habitaria ali. Aqueles seres intolerantes que deram o exemplo do Brasil que não queremos ver; tenho certeza, NÃO REPRESENTAM a Marcha das Vadias. Eu creio na sensatez desde movimento e em seus objetivos e sei que sempre haverá pessoas de má índole infiltradas entre os bons. Ovelhas negras, que tentam pôr em xeque a seriedade de um grupo. É preciso também sabedoria para discernir as coisas. Aguardo ansiosamente a Marcha das Vadias que ocorrerá em Teixeira dia 1° de agosto, para que todos possam entender pelo que este grupo marcha, apagando de nossa memória este lamentável episódio isolado, que, ainda bem, não teve força para tirar a beleza da Jornada Mundial da Juventude, momento único para mais de 3 milhões de jovens católicos.

O Papa Francisco é o primeiro argentino que curto e compartilho das muitas ideias. E sinto que há coisas, sob meu ponto de vista, passíveis de mudança no Catolicismo, que ele não muda por força da tradição. Entretanto, ele sabe como deveria ser e, por isso, o que pode fazer para dar bons exemplos, faz. O bom e simpático Chico é a personificação da humildade, seus ensinamentos deveriam ser absorvidos por todos, independente de religião. As pessoas precisam de mais Cristo em seus corações. E creio que aquele grupo de 2000 pessoas que afrontou milhões de jovens católicos, que no Rio estavam com o espírito de paz, de comunhão e fraternidade, desconhecem o que é respeito. E me pergunto: como podem pessoas que não praticam sequer a tolerância lutar por uma minoria? Discrepante, não?! Eu não aprovo este tipo de comportamento. Tenho desprezo por aquelas pessoas que destruíram as imagens, pisaram em crucifixos e provocaram os fiéis, como tenho asco por aquele pastor miserável que chutou a imagem de uma santa tempos atrás. Ainda que para mim tais objetos tenham valores outros, para milhões eles são o símbolo de fé, e isso precisa ser respeitado. Chico não merece este tipo de protesto, ele não é responsável pelos acertos, tampouco os erros que Igreja que ele representa fizeram ao longo de séculos. Ele não fez nada. E eu, que respeito a Marcha das Vadias, afirmo que aquele grupo não me representa. Querem protestar? Vão lá no congresso, lá existem culpados por erros atuais, que, ao contrário da religião, que pode ter frutos positivos, nada de benéfico nos traz.

Carla Félix é formada em Letras Vernáculas pela Uneb/Campus x. Revisora, redatora e editorialista; atua em jornal e sites de notícias da cidade.


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